O álbum "Cantaremos", do Adriano Correia de Oliveira, juntamente com o "Cantigas do Maio", do José Afonso e do "Canções De Amor e De Esperança" do Luís Goes eram, em casa dos meus pais, os tais discos que não se podiam ouvir muito alto. Tirando os singles com histórias para crianças e uma ou outra prenda de anos (do género A Pandilla em português ou as Canções da Linucha), só comecei a ter discos realmente meus, oferecidos por alguém ou comprados por mim, já o chamado PREC estava no fim e eu já tinha virado as minhas atenções para o rock vindo "lá de fora".
Antes do 25 de Abril, o que é o mesmo que dizer "até aos 11 anos de idade", ouvia os discos que havia lá por casa que, para além dos três que referi acima eram pouco mais do que uma ou outra coletânea do Reader's Digest com versões de êxitos dos anos 50 e 60, tocados por orquestras "Pop".
Neste álbum, o do Adriano, havia uma música que me causava uma tristeza profunda mas que eu não conseguia deixar de ouvir (creio mesmo que foi, mais tarde, das primeiras canções que aprendi a tocar na viola). Não percebia muito bem porque é que os homens da Galiza se iam embora, a Espanha nem sequer tinha guerra do Ultramar, entristecia-me que as mães ficassem sem os filhos e os filhos sem os pais, mas o que mais me fazia sofrer era mesmo aquela flauta, que se misturava com o lamento do Adriano. E o pior é que aquilo doía-me mas eu gostava e nunca conseguia ouvi-la só uma vez.
Fui construindo a minha coleção de discos, que ultrapassou a dezena de centenas, mas fui sempre voltando a esta canção, sempre que precisava daquele tratamento de choque em momentos mais complicados, mesmo que não houvesse emigração envolvida no problema. Este "shot" de flauta e voz de Adriano sempre foi para mim uma espécie de terapia primordial e indispensável.
#8. Adriano Correia de Oliveira - "Cantar de Emigração"
(Letra: Rosália Castro; Musica: José Niza)
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