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quinta-feira, 28 de março de 2024

"Cada vez se vendem menos discos". E no entanto...

Muitos de vocês sabem que evito comprar música naquela cadeia de lojas que acabou com as pequenas discotecas, que trata mal as pequenas editoras e que esconde o trabalho dos músicos individuais que lhes deixam o trabalho à consignação. Ultimamente tenho-me safado melhor. Eu explico.



Há, de facto, cada vez menos CDs à venda e mesmo as novas lojas de discos estão cheias de vinil, com uma pequena secção de CDs. Ainda não percebi muito bem a dimensão ecológica do regresso do vinil, derivado do petróleo, não tenho a certeza da pegada de carbono de um CD, mas sei que os meus ouvidos não suportam o som de "batata frita" gerado por meses ou anos de passagens da agulha nas estrias e que o tamanho dos CDs é bem mais fácil de arrumar numa estante, que o posso passar para uma pen-drive e ouvi-lo as vezes que quiser sem danificar o original, ou mesmo andar com ele no carro sem temer roubos ou intempéries. 
É verdade. Já ninguém compra CDs. Ou quase ninguém. A música está, na sua grande maioria, disponível em "streaming". Com uma pequena quota, temos tudo disponível online sem termos que comprar a música; para quem quer ficar com a música em formato digital, não faltam lojas online, algumas disponibilizadas pelos próprios artistas ou pelas produtoras que lhes gerem as carreiras e, para os "verdadeiros melómanos", temos o glorioso regresso do vinil. 


Nos últimos anos não tenho comprado tanta música como comprava, por razões várias, que não interessam agora para aqui, mas descobri que posso comprar a música diretamente aos músicos ou a quem lhes gere as carreiras, reduzindo assim a quantidade de intermediários e aumentando significativamente o que os artistas ganham em cada disco vendido. 

Sim, em certos casos sou obrigado a ouvir a música nas plataformas de streaming, que pagam uma miséria aos artistas por cada audição. Estou até a pensar começar a fazer crítica aqui no blogue a discos que ouço nessas plataformas. Posso não poder comprá-los, mas posso dar a conhecer a música de maneira a que outros a comprem aos artistas. Recebo alguns de oferta, de amigos, mas o que eu gosto mesmo é de escrever a um músico e dizer-lhe "Olá, quero comprar o teu disco!" De maneira mais direta ou menos direta, tenho aqui vários, alguns que já comentei, outros que esperam comentário. Hoje chegou mais um: uma obra fantástica do José Peixoto, que vai começar a tocar em casa e no carro e do qual vos falarei nos próximos tempos. 

Obrigado, José Peixoto, pela atenção e pela rapidez, mas principalmente pela boa música.

Capa:

José Peixoto, "Melancolias Incertas











"


Links:


sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Mais "produção nacional" #009

Puresta Cidade - Trabalhadores do Comércio


"Puresta Cidade" é o segundo single (depois de "Na Desportiba") do novo álbum dos Trabalhadores do Comércio "Objecto", a sair no próximo dia 20 de Outubro.

Pelas duas amostras (e pelos concertos que temos visto ultimamente), os Trabs continuam em forma e a mostrar que são uma das grandes bandas do país, embora continuem a ser das mais desconhecidas.

Vão ouvir. Os Trabalhadores são muito mais (e muito melhor) do que o "Chamem a Pulíssia".

E para o pessoal da rádio que diz que não há produção nacional suficiente, ouçam este e os anteriores. São capazes de descobrir alguma coisa.


segunda-feira, 27 de março de 2023

Quero Mais Música Portuguesa...

... mas de qualidade, que a que vai chegando de fora deixa bastante a desejar.

Nos últimos tempos, devido à decisão governamental de voltar a baixar a quota de música portuguesa que deve passar nas rádios, de 30% para 25%, temos assistido, por parte dos músicos e de outros sectores da produção artística músical, a um movimento que visa restaurar esses 5% de divulgação que perderam.

Ora, eu penso que este assunto não se pode encarar apenas do ponto de vista artístico. É uma questão de economia e de sobrevivência de muita gente que vive da música em Portugal e deve ser visto por esse prisma. Por esse lado, não é com mais 5% de quota que se vai resolver o problema. O que se passa é que as rádios recebem todo o tipo de "prendas" das grandes editoras e os poucos artistas portugueses dessas acabam por passar bastante nas rádios.

Se achamos que o protecionismo económico é válido na agricultura ou na indústria, com incentivos do Estado à exportação, as mesmas razões deveriam imperar quanto à produção artística e o apoio à divulgação nos vários meios de comunicação deveria ser efetivo. Mas depois temos o problema do orçamento para o Ministério da Cultura, não é?

Se formos ver o problema do ponto de vista meramente artístico, não há nenhuma razão válida para obrigar as rádios privadas a passar mais música portuguesa. A música não tem nação e é boa ou má (embora haja nesta valoração muito de subjetivo) e adequa-se ou não a determinado tipo de programa ou conteúdo radiofónico.

As grelhas e os programas de rádio são concebidos de acordo com os critérios editoriais de cada rádio e nesses critérios estão (ou é suposto estarem) incluídos pressupostos artísticos, estilísticos, comerciais, éticos, jornalísticos, etc., que é suposto responderem a exigências de um público alvo que é estabelecido pela direção, no caso das rádios privadas. Não consta que haja falta de música portuguesa, por exemplo, na maioria das pequenas rádio locais de cobertura concelhia ou distrital, fora das grandes cidades. As pequenas editoras de música popular conseguem acesso e a música passa. Qual música? Supostamente a que agrada ao público alvo destas rádios.

Já o critério das rádios públicas deve ser o serviço público. Ou seja, as rádio privadas decidem o que passam e as públicas, sendo pagas pelos contribuintes de um país, deveriam divulgar, quase em exclusivo, música desse país.

Depois, nestas alturas, surgem-me sempre mais umas dúvidas: todos sabemos que a maioria das rádios se rege por playlists e que estas quotas terão que ser consideradas nessas playlists. Ora, com um incremento de 5%, quem é que nos garante que as playlists, em vez de incluir mais artistas nacionais, não se limitam a passar mais vezes os que já passavam?

O que eu sinto, quanto ao estado da rádio em Portugal, aliás como na televisão, é que há um grande facilitismo na programação e que todas (falo das generalistas) se copiam umas às outras. Por exemplo, não há rádio de cobertura nacional generalista que não tenha um programa da manhã cheio de larachas e com muito pouca música. No meu caso, o que acontece é que entro no carro para ir trabalhar, ouço a TSF até falarem do trânsito e depois desligo e passo a ouvir a música que trago de casa. Mas isso sou eu, que bem vejo o resto do pessoal na fila de trânsito a rir sozinho das piadolas do Markl, do Marques ou da Marques e da Markl...

Assuma-se de uma vez: é preciso apoiar a indústria musical em Portugal ou não?

E se é, o Estado está disposto a cumprir a sua parte?

E se não está, a indústria da música (e afins) está disposta a unir-se e trabalhar para isso?

E as rádios privadas? Estão dispostas a entrar no jogo e passar a dispor, a médio prazo, de uma muito maior escolha de música de qualidade para melhorar as suas playlists?

Para já, aumentem lá de volta os 5%, mas com a certeza de que há muito mais do que isso para ser feito.

sábado, 26 de junho de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #007

Tantra: À Beira do Fim.

Sobre os Tantra e sobre o percurso de Manuel Cardoso na música em Portugal, podia escrever-se um livro daqueles gordos, tal a riqueza e diversidade do que tem produzido até hoje, sem sinais de que irá parar tão cedo. No entanto, no que respeita à escrita de blogues, todos sabemos que há limites para o que se consegue que as pessoas leiam. É tudo uma questão de formatos.

No meu caso, conheci a música dos Tantra antes de os ouvir pela primeira vez, porque tinha um amigo nos escuteiros que, durante um acampamento de verão de uma semana, cantava este "À Beira do Fim" em altos berros, várias vezes ao dia. Terminado o verão, comecei por ver os Tantra num programa de televisão em que também conheci outras bandas, como os Psico ou os Perspectiva, soube da eminente edição do novo álbum "Holocausto" nas páginas da revista "Música & Som" ou no jornal "Se7e" (não me lembro bem qual) e acabei num Coliseu cheio para o concerto de apresentação do novo álbum. Para mim, que não tinha visto os Genesis em Cascais em 1975, por falta de idade, aquele género de concerto ao vivo era todo um mundo novo, uma espécie de peça de teatro com músicos ao vivo e tudo em grande: o som, as luzes, até a bateria do Tó-Zé Almeida (que mais tarde veria nos Heróis do Mar com uma bateria mínima, sinais dos tempos). As máscaras do Manuel Cardoso eram fabulosas. Ele aparecia e desaparecia, umas vezes tocava, outras não, mas as guitarras sempre asseguradas com mestria pelo Tony Moura, que eu já tinha visto nos Psico. 



O Tantra eram, na altura do álbum "Mistérios e Maravilhas", onde está a versão de estúdio do "À Beira do Fim", o Manuel Cardoso (ainda antes da fase Frodo): Guitarras e vozes; Américo Luís: baixo; Armando Gama (sim, o da "Balada que te dou"): teclados e Tó-Zé Almeida, bateria e percussão. Quando os vi no Coliseu, para além da inclusão do Tony Moura na guitarra e vozes, o Armando Gama tinha sido substituído pelo Pedro Mestre e este pelo Pedro Luís (sim, o dos Da Vinci).

Estava eu então no princípio das minhas idas a concertos e aprendi cedo que os de bandas portuguesas também valiam a pena. Tempos depois vi, no mesmo Coliseu, o meu primeiro concerto da Go Graal Blues Band, mas isso é assunto para uma publicação mais à frente.

Para além do vídeo acima em que podem ver como era o "À Beira do Fim" ao vivo (junto com uma versão, penso que em sala de ensaio de "Ji" do álbum "Holocausto", deixo-vos aqui em baixo a versão completa, que tem cerca de 11 minutos, mas é uma viagem ao que se fazia, já em 1977, no prog-rock em Portugal.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Bluegrass em Portugal, com André Dal

O André toca banjo há cerca de 20 anos. Eu conheço o André há oito, por via das "jam sessions" (sessões de improviso) que organiza com o objetivo de divulgar o género musical e de tocar com outras pessoas, para lá dos elementos da sua banda, Stonebones & Bad Spaghetti (SB&BS), provavelmente a única banda Bluegrass em Portugal. É certo que têm havido algumas incursões no género desde o fim dos anos setenta e inícios de oitenta, protagonizadas por músicos como Jorge Palma, Mário Ribeiro, King Fishers Band ou, mais recentemente, Anaquim, mas sempre de passagem, nunca assumido como o género principal dos grupos ou artistas. Bandas assumidas de Bluegrass em Portugal, só conheço os SB&BS.

Pois então, se o André tem uma banda de Bluegrass em Portugal, porquê um disco a solo? Bom, porque o André anda há 20 anos a percorrer as jam sessions dos vários festivais Bluegrass que se realizam na Europa e nos Estados Unidos e tem colecionado amigos por esse mundo fora, que o têm apoiado e encorajado a continuar a fazer coisas dentro do Bluegrass, todos muito bons músicos e com quem o André tem muito prazer em tocar. Por essas razões e por se ter visto confrontado com uma condição física que tem vindo a prejudicar o seu domínio do banjo, decidiu o André editar a solo um disco instrumental de standards bluegrass e temas seus, tocado por ele e por todos os seus amigos espalhados pelo mundo.

Ora, apesar de o Bluegrass ser um género musical que assenta muito na interação entre os músicos durante a execução, um pouco como no Jazz, a tarefa de gravar toda aquela gente junta em estúdio apresentou-se como impossível em termos logísticos, considerando a falta de meios financeiros com que o projeto se confrontava. Optou-se pela solução de cada um dos músicos gravar a sua parte e enviar para uma mistura final. Quando ouvi esta explicação, torci o nariz e pensei: "Bluegrass à distância? Humm...", até que me chegaram os primeiros sons do single "Beyond The Tagus River" (se ainda não repararam, quer dizer Alentejo). E não é que, não só a interação entre instrumentos resulta, como ainda por cima a mistura está muito bem feita? Não vou dizer que tudo encaixa como se fosse gravado "as pickers do", mas o resultado final está muito bom. 

Apresento-vos assim "Beyond The Tagus River" o primeiro álbum de Bluegrass instrumental de um músico de Bluegrass português, tocado por músicos de todo o mundo, incluindo Portugal. A música é muito boa, o trabalho está bem feito e só falta ser ouvido por toda a gente. Tem passado em várias rádios online pelo mundo fora e agora falta ser ouvido nas rádios nacionais, coisa que, sabemos todos, é um bocadinho complicado de conseguir. Mas não sei. O André nunca desiste. Estejam por isso atentos e, se quiserem comprar o disquinho, sai amanhã. Podem comprá-lo contactando o André Dal no Facebook e Instagram. Ficam aí os links e, aqui em baixo, o single de apresentação, que dá o nome ao álbum.


quinta-feira, 27 de maio de 2021

Estórias da minha estante #001

Começa aqui mais uma rúbrica neste blogue. Posso não ser das pessoas que vocês conhecem com a maior coleção de discos mas acho que, com mais de 800, entre os vários formatos, consigo ter algumas coisas para contar sobre o modo como alguns deles cá vieram parar. Nem todas terão piada. A maior parte são curiosidades que só interessam a melomaníacos como eu, mas vamos ver o que sai daqui.

A primeira história (e muitas das seguintes também) fala da dificuldade em se conseguir encontrar certos discos para comprar. Se era difícil para mim, antes de começar a trabalhar, conseguir juntar dinheiro para comprar música, muitas vezes me aconteceu ter dinheiro, andar à procura de um disco específico e ele não existir em lado nenhum. Com os estrangeiros ainda se conseguia, pedindo a alguém que fosse ao estrangeiro ou mandando vir de fora em algumas lojas de discos que tinham essa possibilidade, sendo que esta última opção fazia com que os preços subissem ao ponto de ter de estar um ano sem comprar mais nenhum. Quanto aos portugueses... se não havia, não havia. O contato direto com as editoras estava praticamente vedado ao cliente final e os donos das lojas de discos só nos sabiam responder "no armazém não há".

Estava-se no ano de 1981. Eu tinha comprado o "Chão Nosso", primeiro álbum do Grupo Trovante, alguns anos antes e nesse ano saiu o excelente e muito aclamado "Baile no Bosque", que fez do grupo um sucesso de vendas e que toda a gente passou a ter em casa. Eu sabia que, entre 1976 e 1981, o Trovante tinha editado alguns singles e descobri que havia também um álbum, chamado "Em Nome da Vida". Comecei então a procurá-lo pelas melhores lojas de discos (então chamadas de discotecas) que conhecia. Mas nada. Ninguém conhecia o disco e quem conhecia nunca tinha tido à venda, "não havia no armazém" e nem sequer sabiam qual era a editora. Dei mais umas voltas, fui a discotecas mais pequenas e acabei por descobrir, numa papelaria da CDL (editora ligada ao Partido Comunista Português), que o disco existia de facto, tinha sido editado pela própria CDL, através de uma pequena editora de música que lhes pertencia (fiquei depois a saber que se chamava "Mundo Novo"), mas que não, não iam ter à venda porque já tinha saído há três anos e de certeza que estava esgotado. 

Desanimado voltei a casa para dizer ao grupo com quem costumava juntar-me para ouvir música que tinha ido procurar o disco, mas que a busca tinha terminado porque o disco deveria estar esgotado e dificilmente seria reeditado. 

Estava lá nesse dia uma outra amiga nossa que tinha começado recentemente a frequentar o grupo, por razões que não interessam para esta história, e que disse de repente: "Eu conheço esse disco! A minha mãe trabalha no Comité Central do PCP e eu já lá vi esse disco à venda. Se quiseres, compro e trago-to!". Logo ali se combinou que ela faria uma visita à mãe e traria o disco para quem o quisesse comprar. No fim, arranjaram-se dois, creio eu. Um é o que aqui tenho, o outro não sei quem ficou com ele. 

Os pormenores mais intrincados da estória escapam-me um pouco mas, no geral, estou certo de que foi mais ou menos assim que aconteceu.

Fica aqui uma das canções do disco, com o agradecimento ao Aristides Duarte, que entre artigos, blogues, livros e programas de rádio já fez mais pela música portuguesa do que eu poderei fazer. Este vídeo foi retirado do seu canal de YouTube, o qual aconselho a todos que subscrevam, se ainda não o fizeram.


quinta-feira, 6 de maio de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #005

Os Petrus Castrus são uma banda que, de uma maneira ou de outra, sempre foi aparecendo no caminho das minhas deambulações musicais mas que, por algum motivo estranho, nunca figurou na minha estante de discos. Cheguei a comprar o Ascensão e Queda na CDL, em princípios dos anos 80, mas fui obrigado a devolvê-lo porque vinha riscado e, não havendo outro exemplar, acabei por comprar outro disco (talvez o Live dos Fleetwood Mac, já não me lembro bem).

A banda Petrus Castrus formou-se em 1971 e era composta por Pedro Castro (ex-Sharks), pelo seu irmão José Castro, pelo teclista Rui Reis (ex-Plutónicos e futuro Quarteto 1111) e por Júlio Pereira (sim, o do cavaquinho) e João Seixas (ambos ex-Playboys) e até 1980, ano em que interrompeu a sua atividade, gravou, salvo erro, um single, dois EPs e dois LPs em quatro contratos com três editoras. Acresce a isto um concerto a abarrotar no Teatro Aberto em 1978, ainda antes de os Tantra esgotarem o Coliseu. Para uma época que muitos dizem anterior à existência de Rock em Portugal, parece-me que é obra.

A história dos Petrus Castrus tem vários episódios, alguns de frustração, outros de conquista; relações com pessoas ou entidades que não souberam ou não quiseram entender o projeto musical da banda e outras pessoas com a abertura e o arrojo suficientes para apostar nesta musica "estranha" com poemas sarcásticos e contestatários. O álbum "Mestre", de 1972 musicava poemas de gente como Ary dos Santos, Alexandre O'Neill, Sophia de Mello Breyner, Bocage ou Alberto Caeiro, entre outros. O álbum "Ascenção e Queda" foi um daqueles muitos partos difíceis conhecidos na música nacional. Foi apresentado à editora em 1974 e só seria editado em 1978 numa editora concorrente, tendo como produtor o músico Nuno Rodrigues, da Banda do Casaco.

Ora dizia eu que, por uma ou outra razão, os Petrus Castrus nunca tinham figurado na minha estante de discos. Até hoje. E isto porque, pelo meio das minhas pesquisas, fui dar ao site de uma loja online, que em tempos teve porta aberta em Sintra e que eu julgava desaparecida. A loja chama-se Loja do Arco e apresentava em destaque, logo na entrada, a reedição em vinil e CD do álbum "Mestre", sendo que a versão em CD era dupla e trazia o álbum de 2007, para mim até então desconhecido, "Morte Anunciada de um Taxista Obeso". Pensei: "É desta!". Encomendei no passado sábado, chegou hoje. Simples e rápido. Ninguém me encomendou a publicidade, mas sempre vos digo que a Loja do Arco tem um belo catálogo de música portuguesa. Se estiverem interessados e, como eu, não gostarem de comprar música naquela loja francesa que rebentou com as melhores lojas de discos do país, é de aproveitar.


Conclusão: já estou a ganhar com esta decisão de tentar saber um pouco mais sobre o que aconteceu na música portuguesa anterior ao "Ar de Rock". Já viram a minha sorte?

Como exemplo, deixo-vos aqui Tiahuanaco, faixa nº 9 do "Mestre".

Petrus Castrus - Tiahuanaco




domingo, 2 de maio de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #004

Do rock em Portugal nos anos 70 diz-se, normalmente, que antes do 25 de Abril de 74 era proibido e que depois foi preterido em favor dos grupos de pesquisa de música tradicional e dos cantores politizados de esquerda, que tinham evoluído do protesto para o panfleto. Em termos de edições e tempo de passagem nas rádios esta seria a regra da época, com algumas exceções de que falarei outro dia. Mas este universo de artistas politizados e mais ligados à chamada "canção politica" seria totalmente desprovido de influências rock? Ora vejamos...

Sabemos que, por alturas de 1974, muitos desses cantores de protesto estavam nos seus "vintes" e não vamos acreditar que todos eles ouviam exclusivamente Brel ou Leo Ferré. Esta coisa de arrumar tudo em gavetinhas estanques sempre me irritou um bocado, por isso, aqui deixo umas incursões "rockeiras" que alguns dos mais considerados cantores políticos fizeram durante os anos 70: 

Grupo Trovante: Alto e Bom Som


A primeira vez que ouvi esta canção foi na altura da saída do álbum "Chão Nosso", durante uma entrevista ao Grupo Trovante e lembro-me de ter pensado, ao ouvir a parte instrumental do início: "Eh pá, isto parece uma entrada à Genesis!". Se acham estranho, ouçam o álbum todo. Há por lá mais umas coisitas destas.

Sérgio Godinho: Liberdade


A música do Sérgio Godinho bebe muito das influências da música francesa, é um facto. Mas também sabemos que antes de gravar o primeiro disco ele já andava pelo teatro e tinha participado no que à data se chamava "óperas rock" (hoje é tudo teatro musical). Por isso não se pode considerar que este som seja algo de estranho nele, embora não sendo muito frequente.

Fausto: Marcolino



Esta última, editada em 1974 no álbum "Pró que der e vier", tem ali uma parte que faz lembrar o "Pigs (Three different Ones)" dos Pink Floyd, que só viria a sair em 1977 (será que?... naaaa). Esta mesma música viria a ser alvo de uma versão em 2014, pelos Capitão Fausto, que vos deixo também aqui:

Capitão Fausto: Marcolino


domingo, 25 de abril de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #003

Banda do Casaco - Enterro do tostão


Continuando a divulgação do que se fazia em Portugal antes da edição de "Ar de Rock" do Rui Veloso e, consequentemente do chamado "boom" do rock em Portugal, apresento-vos hoje a Banda do Casaco. Para quem não conhecia, ao ouvir a música do vídeo é capaz de surgir a pergunta: "Rock???". Sim, rock. Por alturas da segunda metade dos anos setenta, há muito que o rock tinha deixado o "and roll" pelo caminho e se tinha começado a fundir com todas as outras músicas. Havia o chamado rock clássico, o rock progressivo, o Jazz-rock, o Funk-rock, o Country-rock, o Folk-rock e mais uns quantos "roques". O da Banda do Casaco poderá ser considerado uma espécie de trad-jazz-rock ou outra coisa qualquer, não importa muito, mas que tem rock, isso tem, embora também não importe muito.

A Banda do Casaco nasceu em 1973 do fim da Filarmónica Fraude de António Pinho e Luís Linhares, a quem se juntaram Nuno Rodrigues (Musica Novarum) e Celso de Carvalho (Plexus). Este foi o núcleo inicial mas, ao longo da sua existência, entre membros e colaboradores, passaram pela banda mais de 35 elementos, dos quais destaco músicos como Armindo Neves, Carlos Barretto, Carlos Zíngaro, Jerry Marotta (baterista que tocou, entre outros, com Peter Gabriel), José Campos e Sousa, José "Moz" Carrapa, José Eduardo, Mike Sergeant, Ramón Galarza, Rão Kyao, Tó Pinheiro da Silva, Vitor Mamede, Zé Nabo e vocalistas como Né Ladeiras, Concha, Gabriela Schaaf e Cândida Soares, que ficou conhecida para a posteridade como Cândida Branca-Flor, exatamente devido a uma canção da Banda do Casaco, "Romance de Branca-Flor".

A canção do vídeo de hoje pertence ao álbum "Contos da Barbearia" (1978), nada mais nada menos do que o quarto (sim, 4º) de originais da Banda do Casaco. Para um país onde "ninguém editava nada" não está nada mal, digo eu. Pois a Banda editava, por essa altura, à razão de um LP (álbum) por ano. Em contos da Barbearia participam os seguintes músicos:

Banda:
Nuno Rodrigues (ex - Musica Novarum) – voz, guitarra, flauta
Mena Amaro – voz
Celso de Carvalho (ex - Plexus) – violoncelo, cítara
António Pinho (ex - Filarmónica Fraude) – voz
António Pinheiro da Silva (ex - Perspectiva) – guitarra, flauta

Colaborações:
Armindo Neves (Orquestra Girassol, Quarteto 1111) – guitarra
José Eduardo (Orquestra Girassol) – guitarra baixo, contrabaixo
Carlos Zíngaro (Plexus) – violino
Rui Reis (Play Boys, Plutónicos, Petrus Castrus, Quarteto 1111) – teclas
Vitor Mamede (Sindicato, Quarteto 1111) – bateria
José Barrocas – flauta
Adácio Pestana – trompa
António Reis Gomes – trompete
Rita Rodrigues – voz



Cá está. Para quem já conhecia é certamente uma boa recordação. Para quem não conhecia talvez seja uma surpresa. Já sabem: comentários, correções, achegas e outras coisas a dizer, carreguem aqui em baixo e digam de vossa justiça.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #002

No seguimento da última entrada, em que divulguei um single de "rock progressivo", da autoria de José Cid, por alturas de 1977, lembrei-me de começar a compilar informação sobre este tema do rock português antes do rock, ou seja, do rock que se fazia em Portugal antes de alguém se lembrar de declarar o "Ar de Rock" (1980) do Rui Veloso como o princípio do rock português e, por conseguinte, o Rui como "pai do rock nacional". Pois, nada mais errado. Poderá, sim, dizer-se que o sucesso deste disco potenciou um investimento por parte das editoras que, até aí, não existia, mas o rock, esse existia em força no país, pelo menos desde 1960 (diz-se que o primeiro "conjunto" surgiu em 1955), ou seja, há pelo menos 20 anos de história do rock em Portugal anterior ao que ficou conhecido como o "boom do rock português" dos anos 80. Nos últimos dias tenho vindo a registar dezenas de "conjuntos", "grupos" e "bandas" (consoante a designação usada ao longo do tempo), uns que já conhecia outros que não, e que fazem parte de uma autêntica "árvore genealógica" de músicos que, em diversos cruzamentos de formações, dão origem e fim a um sem-número de coletivos. Tentar perceber quem tocou onde, quem entrou e saíu daqui ou dali é um exercício que parece não ter fim, mas que me dá um prazer tremendo. Sei que há quem já tenha feito este trabalho, mas agrada-me a surpresa das descobertas que vou fazendo, por isso vou tentar alimentar esta nova rúbrica regularmente aqui no blogue (se é que alguém ainda lê isto, eh eh).

A proposta de hoje faz parte dessa cadeia de bandas que deram origem a outras bandas. O Conjunto Académico Os Espaciais (depois apenas Os Espaciais) é o primeiro pouso conhecido do guitarrista e vocalista Tony Moura, que mais tarde fundou os Psico e pontificou ainda como músico convidado nos Tantra, onde assegurava uma boa parte das guitarras e vozes ao vivo, deixando ao Manuel Cardoso (mais tarde Frodo) a liberdade para se entregar á faina teatral que caracterizava os concertos do grupo. Ora, os Psico foram ponto de convergência de músicos vindos, para além dos Espaciais, de bandas como Pentágono, Chinchilas ou Grupo 5. Das cinzas dos Psico nascem os Arte & Ofício que por sua vez deram origem aos Roxigénio e aos Trabalhadores do Comércio. Pelo caminho aparece gente como António Pinho Vargas, André Sarbib ou Filipe Mendes (Phil Mendrix). Um autêntico novelo para desemaranhar.

 Esta gravação é de 1967 e trata-se de uma versão de "Taps", mais conhecida como "Toque do Silêncio". É assim mais ou menos como os irmãos mais novos dos Shadows a tocar num funeral, mas tudo tem que começar por algum lado e estava-se em Portugal nos anos 60, com todas as dificuldades que calculamos que os músicos enfrentariam, até para comprar uma guitarra elétrica que não desafinasse a meio da primeira canção. Uns heróis, estes pioneiros.



terça-feira, 30 de março de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #001

José Cid - Vida (Sons do Quotidiano)


Em 1977 andava eu na minha fase "prog-rock". Genesis, Yes, Camel, Triumvirat, etc, antes ainda de descobrir o folk britânico e os "singer-songwriters" americanos.

Portugal, aparentemente, passava ao lado de todos estes géneros musicais. Vivia-se a pós-revolução, o nacional-cançonetisomo e o fado tinham sido postos de lado por se considerar (erradamente, como viria a ser demonstrado) que eram géneros musicais afetos ao antigo regime e a música portuguesa que mais se ouvia nas rádios ou vinha dos antigos cantores de protesto ou de grupos urbanos de recolha de música tradicional. No entanto... eles existiam.

Felizmente, por esses anos, a rádio era muito diferente do que é hoje. As editoras ainda não compravam as playlists das rádios e os realizadores-locutores-animadores de programas ainda tinham bastante liberdade para passar a música que consideravam de qualidade e, pelo meio do "politicamente aconselhado", surgiam por vezes umas pérolas na forma de programas de autor. Até a televisão, na altura apenas com dois canais, arranjava espaço para, de vez em quando, enfiar uma série de programas com grupos portugueses de Rock... e até de Jazz, imagine-se.

Esta ouvi-a um dia na rádio. Tratava-se de um EP com apenas uma canção dividida pelos dois lados do disco. Chegou a passar várias vezes, até. Afinal era uma canção do José Cid, por essa altura já uma das grandes figuras da música nacional. Umas vezes passava o lado 1, outras o 2. Ocasionalmente um a seguir ao outro, como aqui. Os músicos intervenientes:

José Cid: teclas, voz
Guilherme Scarpa Inês: bateria
Zé Nabo: baixo
José Carrapa: guitarra

Se reconhecem aqui gente da futura Banda Sonora do Rui Veloso e dos Salada de Frutas, estão absolutamente corretos.

Apesar da foto qua aparece durante o vídeo, esta canção não faz parte do célebre álbum "10.000 anos depois entre Vénus e Marte", que saíu no ano seguinte.

Nos próximos tempos, vou mostrar aqui mais coisas do Rock português "pré-Ar de Rock", para dar a conhecer a alguns e recordar a outros. Vão aparecendo.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Surge, de Ser Castro: Pôr os abraços em dia.

Quando começaram a surgir os primeiros rumores acerca do projeto de disco a solo do Sérgio Castro, tentei imaginar o tipo de álbum que poderia ser e, pesando o percurso que conhecia, achei que seria um disco bastante diferente do trabalho nos Trabalhadores do Comércio. Pensei que poderia ser um álbum introspetivo, basicamente acústico com uma ou outra colaboração, ou então uma coisa mais à antiga (parece que agora se diz old school), ancorada no funk-rock dos Arte & Ofício, mas mais chegada ao universo algo esquizofrénico de um Frank Zappa. Não me saiu nem uma coisa nem outra, ou se calhar saiu-me todas juntas. Onde acertei completamente ao lado foi na língua. Pensei português, saiu inglês. Toma! É para não te pores a querer abrir a encomenda antes da chegada do carteiro.

Surge, de Sérgio Castro (no caso, Ser Castro) é notoriamente um disco solitário e introspetivo na sua conceção, mas coletivo e virado para fora no que respeita à concretização, tanto em termos de produção, de execução e até de expressão gráfica e artística (quem mais daria liberdade aos amigos para ilustrar as canções com trabalhos originais e lhes daria o destaque de um livro de exemplar qualidade gráfica em formato de disco vinil?). De facto, o livro é a primeira grande surpresa deste trabalho, diria, multidisciplinar. Cada canção tem direito a uma ilustração original, um texto explicativo em duas línguas e uma ficha técnica impressos com uma qualidade invulgar. O CD aparece na última folha, num singelo envelope plástico, como uma adenda à obra. Pegamos nele, pomo-lo a tocar (ainda têm leitores de CD? eu tenho) e rapidamente somos lembrados do que afinal se trata aqui: música! E da boa!

Em Surge, Ser Castro parece ter percebido que, com tantos anos de música em projetos coletivos e alheios, se tinha esquecido de revelar mais um pouco de si. E o que faz, neste primeiro disco a solo (sim, penso que mais se seguem), é uma rápida retrospetiva da “parte de trás”, digamos assim, dos seus 50 anos de música. O autor vai a cada uma das suas “gavetas” de vida e revela um pouco de cada uma, sempre com a ajuda dos amigos que a cada uma pertencem (ou lamentando a sua falta, mas nunca os esquecendo). O resultado é um álbum necessariamente heterogéneo em termos estilísticos, mas de grande qualidade, primorosamente tocado e cuidadosamente produzido. Todas as canções são muito diferentes umas das outras, sim, mas nunca há a sensação de se perder o fio à meada, mesmo não seguindo o alinhamento uma linha temporal, ou se calhar mesmo por não a seguir.

Surge poderia ser um álbum biográfico, mas acaba por se tornar um disco sobre momentos, amizade, saudade, agradecimento e reconhecimento. Mais do que tentar fechar capítulos, parece mais um assumir do lugar das coisas para seguir em frente. Assumem-se perdas, lembra-se quem já não está e promove-se o encontro com os amigos que se foi fazendo pela vida fora, como queremos fazer todos a certa altura das nossas vidas. No caso, nem todos os que estavam previstos conseguiram chegar a participar, o que deixa espaço em aberto para continuar a função em obras futuras. Se os discos a solo do Sérgio Castro se alimentam de amizades, pois que venham mais amigos, que nós cá os saberemos receber.

No fim, afinal o que podemos ouvir em Surge? Como se consegue enfiar cinco décadas num só álbum e de que constam esses 50 anos em termos estritamente musicais? Pois, é difícil, impossível até, inserir este disco num único género (é sempre, com o Sérgio Castro) mas, no meu caso, consigo ouvir aqui um conjunto de influências que não é certamente de lamentar, a saber: The Beatles, Moody Blues, Go Graal Blues Band (a original), Bowie, Scott Walker, Bob Seger, JJ Cale, Peter Green, Allman Brothers, Billy Joel, Zappa, Queen… e sim, Arte & Ofício e Sérgio Castro. Trabalhadores? Nem por isso, mas para isso temos aí os respetivos discos, certo?

Grandes momentos a assinalar: A voz de Daniela Costa no refrão de The Dark Hour; o solo de guitarra acústica e os coros em Slow Down; o diálogo das guitarras e o baixo “refilão” no final de Douro Blues; o piano e a guitarra acústica (que faz uma “caminha sarcástica”) em My Delightful Friend; o solo de guitarra acústica em Hard Blow; Fernando Nascimento em The Same Old Song. E mais uns quantos, mas a prosa já vai longa e já escrevi para aí o triplo do que planeei, que nisto dos blogues, a coisa tem que se ler rápido.

E é verdade. Também eu deixei passar uns abraços pelo caminho. Todos deixamos, penso eu!

Obrigado, Sérgio.



segunda-feira, 1 de abril de 2019

A padeira e os Gaiteiros!

Os Gaiteiros de Lisboa têm álbum novo a sair! Finalmente!

A formação do grupo mudou (ver abaixo), mas a qualidade, pelo menos a julgar pela amostra junta, mantém-se. Esperemos a edição do álbum completo.

Fazia pão
Broa de milho e bolos
Não sabia marcar golos
Não foi para o Panteão (pim)




"Brites de Almeida"

Música do novo disco "Bestiário" (Uguru, 2019)

Música e letra: Carlos Guerreiro

Gaiteiros de Lisboa de Lisboa são:
Carlos Guerreiro
Miguel Quitério
Miguel Veríssimo
Paulo Tato Marinho
Paulo Charneca
Sebastião Antunes

Vídeo realizado por Miguel Veríssimo
Com Carla Vasconcelos

Maquilhagem por Rita de Castro
Operação de Câmara por Paulo Martinho

Agradecimentos: Teatro A Comuna

© Gaiteiros de Lisboa 2019

domingo, 10 de março de 2019

PLAY - Prémios da Música... Portuguesa?

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A Associação PassMúsica, entidade constituída pela AUDIOGEST e pela GDA, será o promotor da primeira edição dos PLAY - Prémios da Música Portuguesa. O prémios serão atribuídos em cerimónia realizada no próximo dia 9 de abril mas, a menos de um mês de distância, ainda não se sabe quem são os nomeados e, nas páginas dos responsáveis pelos prémios, não se vê qualquer esclarecimento sobre a maneira como se processam as nomeações e a maneira como são votadas.

Vale-nos o site Arte Sonora, onde podemos ler:

Entre 23 de Março e 8 de Abril, serão transmitidos 17 programas diários na RTP1 e online com a divulgação dos nomeados por categoria e diversos conteúdos relacionados com os PLAY – Prémios da Música Portuguesa.

CATEGORIAS
Melhor Grupo (Votado pelo Júri)
Melhor Artista Solo (Votado pelo Júri)
Vodafone Melhor Canção (Votado pelo Público)
Melhor Álbum (Votado pelo Júri)
Melhor Videoclipe (Votado pelo Júri)
Melhor Álbum Fado (Votado pelo Júri)
Melhor Artista Internacional (Votado pelo Júri)
Melhor Canção Internacional (Votado pelo Júri)
Melhor Artista Lusófono (Votado pelo Júri)
Artista Revelação (Votado pelo Júri)

Prémio da Crítica (não tem nomeados, votado por um painel de 10 críticos)
Prémio Carreira (não tem nomeados, votado pelas direções da Audiogest, GDA e PassMúsica )

Critérios de votação e funcionamento
Estão definidos critérios volumétricos para cada categoria que permitem determinar o universo de candidatos
Numa primeira fase, a Associação PassMúsica apura listas de elegíveis para cada categoria, obedecendo a critérios objetivos assentes no volume de streaming, vendas físicas, full track download e visualizações;
Numa segunda fase, a Associação PassMúsica fornecerá as listas de elegíveis ao Comité de Nomeação (9 pessoas), que de uma forma colegial e qualitativa escolherá três nomeados para cada uma das categorias.
O primeiro classificado das listas para cada categoria torna-se automaticamente nomeado.

Ora, assim à primeira vista percebemos que os critérios utilizados para as nomeações são, basicamente, as vendas e as visualizações e audições online. Considerando que não há prémios para os vários tipos de música (tirando o fado), facilmente constatamos que grande parte dos melhores músicos do país fica, à partida, excluido por falta de vendas e visibilidade. O critério principal é a quantidade. Que se lixe a qualidade.

No fim do processo tenta-se "endireitar" um pouco a coisa com a atribuição do prémio da crítica e do prémio carreira, da responsabilidade de críticos e da própria associação responsável pelos prémios.

Enfim, são os prémios da "indústria" e eu não esperava que a realidade fosse muito diferente.

Do que eu não estava à espera era do nome dos prémios. Que diabo, se são os prémios da música portuguesa e se, nas palavras do próprio texto de apresentação dos prémios no facebook, a música "É uma das principais marcas da identidade cultural de um povo" por que raio de carga de água é que os prémios não têm um nome em português? Quem me conhece sabe que não nutro nenhum sentimento patriótico ou nacionalista no que respeita a este país (podia ser este ou outro qualquer) mas a língua é a principal marca da nossa identidade como povo e o que nos diferencia do resto do mundo. E é das mais bonitas, caramba!

segunda-feira, 4 de março de 2019

Conan Osiris: Nem original, nem desafiador de mentalidades, nem sequer bom. E ainda por cima, previsível.


Navegando pelo meio de ódios e polémicas que incluíram todo um universo de razões e questões mal resolvidas na opinião pública do país, das quais nenhuma tinha a ver com boa ou má música, Conan Osiris acabou por vencer por isso mesmo: por ser polémico, por mobilizar algumas faixas da população (algumas delas as que mais se interessam pelo Festival da Eurovisão), por sofrer o ódio das redes sociais e (trunfo fundamantal na Eurovisão, na cabeça de muitos), por ter um visual "diferente".




Algumas pessoas continuam a pensar que o Festival RTP da Canção é um concurso para escolher a melhor música do país. Não é. Trata-se de escolher a música com mais probabilidades de ficar bem classificada na Eurovisão e aí, todos o sabemos, a qualidade musical não tem grande importância.

Entre as razões esgrimidas para justificar a escolha de Conan Osiris, estavam a originalidade, a inovação do seu estilo de música e a sua coragem de desafiar preconceitos. Muita gente o comparou a António Variações, a Carlos Paião ou Paulo Bragança. Muita gente exaltou as qualidades de inovação musical do estilo, mas ninguém, que eu ouvisse ou lesse, disse que o rapaz canta bem. Ora então, vamos lá dissecar isto:

Originalidade: Parece que esta espécie de "fado orientalizante" é uma invenção de Conan Osiris. Será? Não, não é. Em 1987 saiu em Portugal um maxi-single em vinil, cantado por Anamar e chamado "Amar por Amar". Nesse disco participavam António Emiliano, Nuno Rebelo, Emanuel Ramalho e Pedro Caldeira Cabral. Na altura falou-se bastante deste conceito em que se misturava o fado com um ambiente orientalizante, mas a carreira de Anamar não foi muito mais longe e a coisa ficou-se por aí.



Ao mesmo tempo, o próprio Nuno Rebelo, integrado no grupo Mler Ife Dada, completava o álbum "Coisas que fascinam" em que, de um outro modo, visitava os mesmos sons do Norte de África, cuja "descoberta" parece ser hoje, mais de 30 anos depois, atribuída a Conan Osíris.



Salientemos ainda o facto de, há 30 anos, tudo isto ser feito em estúdio, com instrumentos musicais tocados por bons músicos e não à base de samples sacados da internet e tratados num modulador de efeitos para criar uma "cama sonora" por cima da qual se pode recitar uma letra mal cantada, mas com um "gingar" afadistado. Há aqui uma diferença. E não é ligeira.

Desafiador de mentalidades: A comparação a António Variações tem, julgo eu, uma base fundamentalmente visual. Mas na verdade Osiris não acrescenta muito, ou mesmo nada, ao que Variações fez nesta área. A grande diferença é que António Variações tinha, de facto, coisas para dizer e uma maneira criativa de o fazer. Osiris, por enquanto, não disse grande coisa. Em termos musicais, nem um nem o outro são grande coisa, na minha opinião. Poderemos discutir esse aspecto do Variações, mas não no âmbito deste texto. Quanto ao Paulo Bragança, consigo perceber as referências longínquas. O Carlos Paião... não sei onde é que foram buscar a ideia, de tão absurda que é.

Concluíndo: musicalmente, Conan Osiris não é, por enquanto grande coisa, tal como António Varições não era (podem comprová-lo no vídeo abaixo), mas pode vir a ser. É um tipo com alguma visão e, bem ajudado, como foi Variações, pode vir a fazer boa música.



Sim, sei que é muito texto para um assunto tão pouco importante. Mas prefiro dar a minha opinião aqui do que ser enxovalhado e ofendido aí pelas redes sociais, pelo delito de ter uma opinião diferente da maioria.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Petição contra a deslocação do Museu Nacional de Música para o Palácio de Mafra

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Não seria este o texto que empregaria numa petição. Também não a endereçaria ao primeiro ministro e de certeza não em termos tão cerimoniosos.

Acredito que o lugar do Museu Nacional da Música é em Lisboa, num edifício amplo, com espaço para o desenvolvimento que o estudo da Música Portuguesa (com dois géneros classificados como Património Imaterial da Humanidade, com vários instrumentos próprios, uns limitados ao território nacional, outros com conhecidos efeitos de expansão mundial) merece. Acredito que a valiosa coleção instrumental e todo o acervo documental e iconográfico necessitam de um espaço que dê as garantias de conservação e acondicionamento que o Palácio de Mafra não oferece. Que o Museu Nacional da Música deverá ser um espaço vivo de aprendizagem, de conservação e restauro de instrumentos, de fruição de todos os géneros de música e até de divulgação e comercialização de instrumentos e música nos mais variados suportes, da mais antiga à mais recente. O Museu Nacional da Música precisa de mais espaço, mais recursos humanos, maior desafogo financeiro. Mafra não oferece, à partida, estas condições.

Em todo o caso, esta é a petição que temos, de momento. É esta que temos de assinar, para já.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

MONDAY - Steamboat

A Catarina Falcão leva já uns anos de estrada desde o início da caminhada das Golden Slumbers.
E isso nota-se em Monday!

One é o primeiro álbum.

Em baixo fica uma versão de Steamboat de Adrianne Lenker.