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segunda-feira, 27 de março de 2023

Quero Mais Música Portuguesa...

... mas de qualidade, que a que vai chegando de fora deixa bastante a desejar.

Nos últimos tempos, devido à decisão governamental de voltar a baixar a quota de música portuguesa que deve passar nas rádios, de 30% para 25%, temos assistido, por parte dos músicos e de outros sectores da produção artística músical, a um movimento que visa restaurar esses 5% de divulgação que perderam.

Ora, eu penso que este assunto não se pode encarar apenas do ponto de vista artístico. É uma questão de economia e de sobrevivência de muita gente que vive da música em Portugal e deve ser visto por esse prisma. Por esse lado, não é com mais 5% de quota que se vai resolver o problema. O que se passa é que as rádios recebem todo o tipo de "prendas" das grandes editoras e os poucos artistas portugueses dessas acabam por passar bastante nas rádios.

Se achamos que o protecionismo económico é válido na agricultura ou na indústria, com incentivos do Estado à exportação, as mesmas razões deveriam imperar quanto à produção artística e o apoio à divulgação nos vários meios de comunicação deveria ser efetivo. Mas depois temos o problema do orçamento para o Ministério da Cultura, não é?

Se formos ver o problema do ponto de vista meramente artístico, não há nenhuma razão válida para obrigar as rádios privadas a passar mais música portuguesa. A música não tem nação e é boa ou má (embora haja nesta valoração muito de subjetivo) e adequa-se ou não a determinado tipo de programa ou conteúdo radiofónico.

As grelhas e os programas de rádio são concebidos de acordo com os critérios editoriais de cada rádio e nesses critérios estão (ou é suposto estarem) incluídos pressupostos artísticos, estilísticos, comerciais, éticos, jornalísticos, etc., que é suposto responderem a exigências de um público alvo que é estabelecido pela direção, no caso das rádios privadas. Não consta que haja falta de música portuguesa, por exemplo, na maioria das pequenas rádio locais de cobertura concelhia ou distrital, fora das grandes cidades. As pequenas editoras de música popular conseguem acesso e a música passa. Qual música? Supostamente a que agrada ao público alvo destas rádios.

Já o critério das rádios públicas deve ser o serviço público. Ou seja, as rádio privadas decidem o que passam e as públicas, sendo pagas pelos contribuintes de um país, deveriam divulgar, quase em exclusivo, música desse país.

Depois, nestas alturas, surgem-me sempre mais umas dúvidas: todos sabemos que a maioria das rádios se rege por playlists e que estas quotas terão que ser consideradas nessas playlists. Ora, com um incremento de 5%, quem é que nos garante que as playlists, em vez de incluir mais artistas nacionais, não se limitam a passar mais vezes os que já passavam?

O que eu sinto, quanto ao estado da rádio em Portugal, aliás como na televisão, é que há um grande facilitismo na programação e que todas (falo das generalistas) se copiam umas às outras. Por exemplo, não há rádio de cobertura nacional generalista que não tenha um programa da manhã cheio de larachas e com muito pouca música. No meu caso, o que acontece é que entro no carro para ir trabalhar, ouço a TSF até falarem do trânsito e depois desligo e passo a ouvir a música que trago de casa. Mas isso sou eu, que bem vejo o resto do pessoal na fila de trânsito a rir sozinho das piadolas do Markl, do Marques ou da Marques e da Markl...

Assuma-se de uma vez: é preciso apoiar a indústria musical em Portugal ou não?

E se é, o Estado está disposto a cumprir a sua parte?

E se não está, a indústria da música (e afins) está disposta a unir-se e trabalhar para isso?

E as rádios privadas? Estão dispostas a entrar no jogo e passar a dispor, a médio prazo, de uma muito maior escolha de música de qualidade para melhorar as suas playlists?

Para já, aumentem lá de volta os 5%, mas com a certeza de que há muito mais do que isso para ser feito.