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domingo, 10 de março de 2019

PLAY - Prémios da Música... Portuguesa?

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A Associação PassMúsica, entidade constituída pela AUDIOGEST e pela GDA, será o promotor da primeira edição dos PLAY - Prémios da Música Portuguesa. O prémios serão atribuídos em cerimónia realizada no próximo dia 9 de abril mas, a menos de um mês de distância, ainda não se sabe quem são os nomeados e, nas páginas dos responsáveis pelos prémios, não se vê qualquer esclarecimento sobre a maneira como se processam as nomeações e a maneira como são votadas.

Vale-nos o site Arte Sonora, onde podemos ler:

Entre 23 de Março e 8 de Abril, serão transmitidos 17 programas diários na RTP1 e online com a divulgação dos nomeados por categoria e diversos conteúdos relacionados com os PLAY – Prémios da Música Portuguesa.

CATEGORIAS
Melhor Grupo (Votado pelo Júri)
Melhor Artista Solo (Votado pelo Júri)
Vodafone Melhor Canção (Votado pelo Público)
Melhor Álbum (Votado pelo Júri)
Melhor Videoclipe (Votado pelo Júri)
Melhor Álbum Fado (Votado pelo Júri)
Melhor Artista Internacional (Votado pelo Júri)
Melhor Canção Internacional (Votado pelo Júri)
Melhor Artista Lusófono (Votado pelo Júri)
Artista Revelação (Votado pelo Júri)

Prémio da Crítica (não tem nomeados, votado por um painel de 10 críticos)
Prémio Carreira (não tem nomeados, votado pelas direções da Audiogest, GDA e PassMúsica )

Critérios de votação e funcionamento
Estão definidos critérios volumétricos para cada categoria que permitem determinar o universo de candidatos
Numa primeira fase, a Associação PassMúsica apura listas de elegíveis para cada categoria, obedecendo a critérios objetivos assentes no volume de streaming, vendas físicas, full track download e visualizações;
Numa segunda fase, a Associação PassMúsica fornecerá as listas de elegíveis ao Comité de Nomeação (9 pessoas), que de uma forma colegial e qualitativa escolherá três nomeados para cada uma das categorias.
O primeiro classificado das listas para cada categoria torna-se automaticamente nomeado.

Ora, assim à primeira vista percebemos que os critérios utilizados para as nomeações são, basicamente, as vendas e as visualizações e audições online. Considerando que não há prémios para os vários tipos de música (tirando o fado), facilmente constatamos que grande parte dos melhores músicos do país fica, à partida, excluido por falta de vendas e visibilidade. O critério principal é a quantidade. Que se lixe a qualidade.

No fim do processo tenta-se "endireitar" um pouco a coisa com a atribuição do prémio da crítica e do prémio carreira, da responsabilidade de críticos e da própria associação responsável pelos prémios.

Enfim, são os prémios da "indústria" e eu não esperava que a realidade fosse muito diferente.

Do que eu não estava à espera era do nome dos prémios. Que diabo, se são os prémios da música portuguesa e se, nas palavras do próprio texto de apresentação dos prémios no facebook, a música "É uma das principais marcas da identidade cultural de um povo" por que raio de carga de água é que os prémios não têm um nome em português? Quem me conhece sabe que não nutro nenhum sentimento patriótico ou nacionalista no que respeita a este país (podia ser este ou outro qualquer) mas a língua é a principal marca da nossa identidade como povo e o que nos diferencia do resto do mundo. E é das mais bonitas, caramba!

segunda-feira, 4 de março de 2019

Conan Osiris: Nem original, nem desafiador de mentalidades, nem sequer bom. E ainda por cima, previsível.


Navegando pelo meio de ódios e polémicas que incluíram todo um universo de razões e questões mal resolvidas na opinião pública do país, das quais nenhuma tinha a ver com boa ou má música, Conan Osiris acabou por vencer por isso mesmo: por ser polémico, por mobilizar algumas faixas da população (algumas delas as que mais se interessam pelo Festival da Eurovisão), por sofrer o ódio das redes sociais e (trunfo fundamantal na Eurovisão, na cabeça de muitos), por ter um visual "diferente".




Algumas pessoas continuam a pensar que o Festival RTP da Canção é um concurso para escolher a melhor música do país. Não é. Trata-se de escolher a música com mais probabilidades de ficar bem classificada na Eurovisão e aí, todos o sabemos, a qualidade musical não tem grande importância.

Entre as razões esgrimidas para justificar a escolha de Conan Osiris, estavam a originalidade, a inovação do seu estilo de música e a sua coragem de desafiar preconceitos. Muita gente o comparou a António Variações, a Carlos Paião ou Paulo Bragança. Muita gente exaltou as qualidades de inovação musical do estilo, mas ninguém, que eu ouvisse ou lesse, disse que o rapaz canta bem. Ora então, vamos lá dissecar isto:

Originalidade: Parece que esta espécie de "fado orientalizante" é uma invenção de Conan Osiris. Será? Não, não é. Em 1987 saiu em Portugal um maxi-single em vinil, cantado por Anamar e chamado "Amar por Amar". Nesse disco participavam António Emiliano, Nuno Rebelo, Emanuel Ramalho e Pedro Caldeira Cabral. Na altura falou-se bastante deste conceito em que se misturava o fado com um ambiente orientalizante, mas a carreira de Anamar não foi muito mais longe e a coisa ficou-se por aí.



Ao mesmo tempo, o próprio Nuno Rebelo, integrado no grupo Mler Ife Dada, completava o álbum "Coisas que fascinam" em que, de um outro modo, visitava os mesmos sons do Norte de África, cuja "descoberta" parece ser hoje, mais de 30 anos depois, atribuída a Conan Osíris.



Salientemos ainda o facto de, há 30 anos, tudo isto ser feito em estúdio, com instrumentos musicais tocados por bons músicos e não à base de samples sacados da internet e tratados num modulador de efeitos para criar uma "cama sonora" por cima da qual se pode recitar uma letra mal cantada, mas com um "gingar" afadistado. Há aqui uma diferença. E não é ligeira.

Desafiador de mentalidades: A comparação a António Variações tem, julgo eu, uma base fundamentalmente visual. Mas na verdade Osiris não acrescenta muito, ou mesmo nada, ao que Variações fez nesta área. A grande diferença é que António Variações tinha, de facto, coisas para dizer e uma maneira criativa de o fazer. Osiris, por enquanto, não disse grande coisa. Em termos musicais, nem um nem o outro são grande coisa, na minha opinião. Poderemos discutir esse aspecto do Variações, mas não no âmbito deste texto. Quanto ao Paulo Bragança, consigo perceber as referências longínquas. O Carlos Paião... não sei onde é que foram buscar a ideia, de tão absurda que é.

Concluíndo: musicalmente, Conan Osiris não é, por enquanto grande coisa, tal como António Varições não era (podem comprová-lo no vídeo abaixo), mas pode vir a ser. É um tipo com alguma visão e, bem ajudado, como foi Variações, pode vir a fazer boa música.



Sim, sei que é muito texto para um assunto tão pouco importante. Mas prefiro dar a minha opinião aqui do que ser enxovalhado e ofendido aí pelas redes sociais, pelo delito de ter uma opinião diferente da maioria.