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segunda-feira, 4 de março de 2019

Conan Osiris: Nem original, nem desafiador de mentalidades, nem sequer bom. E ainda por cima, previsível.


Navegando pelo meio de ódios e polémicas que incluíram todo um universo de razões e questões mal resolvidas na opinião pública do país, das quais nenhuma tinha a ver com boa ou má música, Conan Osiris acabou por vencer por isso mesmo: por ser polémico, por mobilizar algumas faixas da população (algumas delas as que mais se interessam pelo Festival da Eurovisão), por sofrer o ódio das redes sociais e (trunfo fundamantal na Eurovisão, na cabeça de muitos), por ter um visual "diferente".




Algumas pessoas continuam a pensar que o Festival RTP da Canção é um concurso para escolher a melhor música do país. Não é. Trata-se de escolher a música com mais probabilidades de ficar bem classificada na Eurovisão e aí, todos o sabemos, a qualidade musical não tem grande importância.

Entre as razões esgrimidas para justificar a escolha de Conan Osiris, estavam a originalidade, a inovação do seu estilo de música e a sua coragem de desafiar preconceitos. Muita gente o comparou a António Variações, a Carlos Paião ou Paulo Bragança. Muita gente exaltou as qualidades de inovação musical do estilo, mas ninguém, que eu ouvisse ou lesse, disse que o rapaz canta bem. Ora então, vamos lá dissecar isto:

Originalidade: Parece que esta espécie de "fado orientalizante" é uma invenção de Conan Osiris. Será? Não, não é. Em 1987 saiu em Portugal um maxi-single em vinil, cantado por Anamar e chamado "Amar por Amar". Nesse disco participavam António Emiliano, Nuno Rebelo, Emanuel Ramalho e Pedro Caldeira Cabral. Na altura falou-se bastante deste conceito em que se misturava o fado com um ambiente orientalizante, mas a carreira de Anamar não foi muito mais longe e a coisa ficou-se por aí.



Ao mesmo tempo, o próprio Nuno Rebelo, integrado no grupo Mler Ife Dada, completava o álbum "Coisas que fascinam" em que, de um outro modo, visitava os mesmos sons do Norte de África, cuja "descoberta" parece ser hoje, mais de 30 anos depois, atribuída a Conan Osíris.



Salientemos ainda o facto de, há 30 anos, tudo isto ser feito em estúdio, com instrumentos musicais tocados por bons músicos e não à base de samples sacados da internet e tratados num modulador de efeitos para criar uma "cama sonora" por cima da qual se pode recitar uma letra mal cantada, mas com um "gingar" afadistado. Há aqui uma diferença. E não é ligeira.

Desafiador de mentalidades: A comparação a António Variações tem, julgo eu, uma base fundamentalmente visual. Mas na verdade Osiris não acrescenta muito, ou mesmo nada, ao que Variações fez nesta área. A grande diferença é que António Variações tinha, de facto, coisas para dizer e uma maneira criativa de o fazer. Osiris, por enquanto, não disse grande coisa. Em termos musicais, nem um nem o outro são grande coisa, na minha opinião. Poderemos discutir esse aspecto do Variações, mas não no âmbito deste texto. Quanto ao Paulo Bragança, consigo perceber as referências longínquas. O Carlos Paião... não sei onde é que foram buscar a ideia, de tão absurda que é.

Concluíndo: musicalmente, Conan Osiris não é, por enquanto grande coisa, tal como António Varições não era (podem comprová-lo no vídeo abaixo), mas pode vir a ser. É um tipo com alguma visão e, bem ajudado, como foi Variações, pode vir a fazer boa música.



Sim, sei que é muito texto para um assunto tão pouco importante. Mas prefiro dar a minha opinião aqui do que ser enxovalhado e ofendido aí pelas redes sociais, pelo delito de ter uma opinião diferente da maioria.

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