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domingo, 10 de março de 2024

Festival RTP da canção - A final. Afinal...

Ora vamos então às conclusões de mais um ano de Festival da Canção. Pouco para dizer mas tanto para fazer.


(Imagem RTP)
E pronto, lá se escolheu "uma canção para a Europa", como se dizia antigamente.

Olhando para a lista de canções que acabaram por chegar à final, a primeira coisa que salta à vista é que as pretensões de "inclusão" que a RTP tinha originalmente na escolha de compositores a convidar saíram um bocado furadas. Tirando a canção do Leo Middea, cantada em português do Brasil, pouco se viu da intenção de ter representadas na final as várias dimensões da população do país, intento que tinha sido bem mais conseguido em anos anteriores.

Tirando uma ou outra tentativa de fazer diferente (mais até em termos visuais do que musicais), as canções finalistas andaram muito pelo normalzinho do festival, representando muito pouco do que os jovens portugueses ouvem hoje em dia (tirando os casos das representantes da "moda das cantautoras"). Desta vez a dimensão kizomba/auto-tuning não esteve representada, apesar de sabermos que é o que mais se ouve por aí (basta andar de transportes públicos por Lisboa ou Porto, por exemplo).

No que respeita à qualidade das canções, na minha opinião as melhores ficaram nas semi-finais, como escrevi anteriormente (Mila Dores, Mela e Maria João) e, dentro do que o público podia escolher, acabou por ganhar a melhor cantora, o que já não é mau. Devo aliás dizer que, no que toca às vozes, os intérpretes a quem a semi-final não tinha corrido muito bem, em geral melhoraram na final. Pessoalmente, não consigo destacar uma canção finalista que, para mim, fosse melhor do que as outras. Claro que, quando falo das minhas preferências que ficaram pelo caminho, acabo sempre por ouvir a resposta de que também não eram canções para "se levar à Eurovisão" e que este "Grito" da Iolanda terá muito boas hipóteses de ficar bem classificado. Como sabem, nunca levo muito em conta esta coisa do "lá para fora" (Estamos juntos, MEC!), mas lembro-me sempre que ouvi o mesmo quando disse, na primeira semi-final de 2017, que a melhor canção era a do Salvador Sobral. Penso mesmo que a primeira resposta que me deram foi qualquer coisa do género: "Com aquela canção e aquela roupita de mendigo, não vai a lado nenhum". Não só foi, como voltou e se tornou um dos melhores cantores que tem hoje o país. Não estou muito interessado no lugar em que ficará a Iolanda na Eurovisão, mas ficam os votos de boa sorte.


Bom, despachado o concurso, vamos ao melhor da festa: as atuações ao vivo dos intervalos. É assim como o "halftime concert" dos americanos no "Superbowl", ou seja, o verdadeiro acontecimento da noite. Começou com a Mimicat a mostrar como a coisa fica quando ela tem uma banda a sério em palco e acabou com os The Black Mamba (com Anabela, Mimicat e Tó Cruz) como banda tributo dos Abba. Eh pá, eu não ligo nenhuma aos Abba mas os Mambas tocaram aquilo limpinho, limpinho, mostrando também eles que aquela coisa do solo de guitarra a fingir no "Love is on my side" era para esquecer. Mas o momento da noite foi proporcionado por Filipe Melo, Samuel Úria e convidados com Ana Lua Caiano, Alex D'Alva Teixeira, Luca Argel e Paulo de Carvalho nas vozes. Sim, foi mais um "medley" num intervalo do festival (há sempre um ou dois). Mas foi tudo e só o que uma atuação ao vivo deve ser (único senão: o uso da segunda versão de "Tanto Mar" de Chico Buarque em vez da primeira, mas isto sou eu, que tenho a mania dos pormenores). Esqueçam o medley. Isto é música a sério e é apenas uma exemplo das coisas boas que se fazem por cá e que raramente temos oportunidade de ver na televisão. Vá, se estivermos muito atentos, de vez em quando lá detetamos umas pérolas que nos passam pelas madrugadas. Estes momentos fazem-me sempre pensar: para quê tanto concurso de talento e festivais e galas de mais de três horas se temos tantos e tão bons músicos, bandas, orquestras que podemos mostrar às pessoas? E por falar em bons músicos e programas de televisão, por favor acabem com o "Estrelas ao sábado". Pode ser?

Para terminar, quero só dizer que, em relação ao Festival da Eurovisão, subscrevo o conteúdo da carta enviada à RTP por um grupo de artistas solicitando que a estação de televisão portuguesa exija à UER a exclusão da representação de Israel como sanção contra os crimes de guerra cometidos sobre a população palestiniana de Gaza, assim como se fez, e bem, à Rússia quando da invasão da Ucrânia e que, caso a UER não exclua Israel, que seja a própria RTP a recusar-se a participar no Festival. É certo que em Portugal o Festival da Eurovisão tem uma importância e visibilidade reduzidas, mas é um acontecimento importante na Europa e um palco com visibilidade, onde atitudes de protesto não violento podem e devem ser exercidas. E por aqui me fico quanto ao Festival RTP da Canção 2024.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Festival da canção RTP 2024 - Algumas considerações depois da segunda "semi-final"

Comentada a primeira semi-final, tenho obrigatoriamente que comentar a segunda, para a coisa ficar equilibrada. Depois da final também cá virei dizer do que achei.



Claro que não estava à espera que as críticas que fiz em relação à duração e condução da emissão da primeira semi-final tivessem algum efeito na segunda. Tudo está preparado há muito tempo e, no fundo, que interessa a minha opinião numa empresa como a RTP? Certo. Sigamos em frente.

Desta vez passou-se algo com o som. Quase todas as canções foram prejudicadas pelo som das vozes ou, pelo menos, da equalização da voz com a trilha gravada. Uns safaram-se melhor do que outros, como é habitual mas mesmo pessoas com vozes reconhecidas como boas (por exemplo o Buba Espinho) foram prejudicadas pelo fenómeno. A coisa foi melhorando um pouco pelo programa adiante mas nunca ficou perfeita.

O exagerado esforço da "inclusão"

Esta moda dos convites leva a estas coisas. Com tanto politicamente correto, acabamos com uma sessão que inclui coisas parecidas com muita coisa mas que, em muitos casos, acabam por nunca ser exatamente aquilo que supostamente queriam ser. É assim uma espécie de eterna fusão. Eu até gosto de fusões mas algumas aqui parecem um bocadinho "feitas por encomenda". No caso do Buba Espinho o tempero alentejano teve mão demasiado leve; a canção da Cristina Clara, apesar de interessante, ficou ali a meio entre a Beira Baixa e Cabo Verde; a canção do Huca, apesar de bem intencionada, pareceu-me entregue no sítio errado. Espero que a editem em single e faça o seu caminho normal como boa canção que é, uma vez que não foi apurada para a final. A Maria João é, evidentemente, de outro planeta. Quem gosta do projeto Ogre já conhece o género. Maria João canta como ninguém, João Farinha veste-lhe muito bem a voz com camadas de acústica e eletrónica, mas o Festival da Canção ainda tem que palmilhar umas léguas para ter lugar para ela. Ou então não, o Festival da canção vai continuar como é e nós vamos ter anualmente direito a ouvir pequenas pérolas destas que ficam pelas semi-finais, apesar da qualidade que têm. Depois temos o representante da imigração, o representante da emigração... tanto esforço para tentar incluir, que acaba por parecer tudo um pouco forçado.

No meio de tudo isto temos algumas canções que se integram em estilos mais atuais e mais ouvidos e acabam por ser essas as apuradas para a final. Entre essas, talvez tirasse a do Leo Middea (este estilo Djavan interessava-me moderadamente nos anos 80) e apurasse a da Maria João, só para termos uma final um bocadinho mais interessante. 

Num recado para a produção e para os autores, talvez fosse interessante regravar alguns dos acompanhamentos e ter algum cuidado especial com algumas das entregas vocais. Sei que é possível fazer alterações entre a semi-final e a final e tenho uma secreta esperança de que algumas das canções finalistas venham melhoradas, para bem do espetáculo.

Por fim, mais uma palavrinha sobre os convidados: na semana passada foram os 40 anos dos Delfins, esta semana foram os 50 anos de carreira do Herman... 
Nada contra, mas já repararam na quantidade de músicos de qualidade atuais que têm discos e até projetos novos? Assim como quem não quer a coisa, sugeria o Pedro Jóia, os Cara de Espelho, o José Peixoto, os Capitão Fausto ou o Zambujo com o Yamandu Costa e... por acaso já ouviram o disco da Milhanas? 'Tou só a dizer, ok?

Ah! E se puderem encurtar um bocadinho a coisa, o pessoal agradecia. Obrigado



terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Festival da canção RTP 2024 - Algumas considerações depois da primeira "semi-final"

Quase todos os anos vejo o Festival da Canção da RTP, quase todos os anos escrevo alguma coisa sobre o assunto e, sempre que o faço, a maior parte dos meus amigos me fazem a seguinte pergunta: "Eh pá, tu ainda vês essa chachada?"


Sim, vejo. E porque é que vejo? Primeiro, porque é música nova feita de propósito para a ocasião por um grupo de compositores, alguns convidados, outros apurados por concurso, mas principalmente com a vantagem de não serem escolhidos pelo habitual grupo que seleciona os momentos musicais dos programas de fim de semana ou das manhãs e tardes televisivas.

Sim, apanha-se muita música fraquinha e mal cantada mas também aparecem algumas boas surpresas que, se não ganharem, o mais certo é nunca mais as ouvirmos em lado nenhum.

Quanto a esta "semi-final" em particular, tenho algumas considerações a fazer. O mais certo é muito pouca a gente as ler, como tudo o que escrevo neste blogue, mas sempre fica por aqui uma opinião que tem pelo menos a vantagem de ser isenta de todo e qualquer pré-engajamento com algum dos concorrentes. Por outro lado, preciso de me manter ocupado e escrever é sempre uma maneira de combater a estupidificação. Sendo assim, leiam ou não, aqui fica:

1. A duração do programa de televisão.

Quem me conhece sabe da minha aversão à extremamente longa duração dos programas de talentos que passam na televisão. Ora, quando se trata de uma suposta semi-final dum concurso para escolher uma canção para levar a um outro concurso, este internacional, parece-me que três horas e meia de duração é um exagero bastante tormentoso para quem vê, até porque há apenas dez canções a concurso em cada semi-final. Ora, o tempo de emissão de dez canções é, no máximo, com apresentações e considerações, de 50 minutos. Assim sendo, tirando, vá lá, meia hora de música adicional (desta vez uma sentida homenagem a Sara Tavares e uma estranha celebração da carreira dos Delfins, que poderia ter sido feita em qualquer outro lado), ficam pelo menos duas horas de pura PALHA. Não se justifica tanta conversa, tanto vestido, tanto apresentador, tanta entrevista... eh pá. é só uma semi-final dum concurso de canções, certo? Não. A verdadeira razão de tanto tempo de emissão, tanto nos festivais como nos programas de talentos chama-se televoto. É ele, juntamente com toda a publicidade apresentada, que paga os programas. E quanto mais demorar, mais o pessoal vai votando e euro aqui... euro ali... enche a RTP o papo.

2. Os acompanhamentos em playback.

Nos antigos festivais da canção, as músicas eram todas tocadas ao vivo com orquestra e cantadas em direto. Nos dias de hoje, o que se passa é que este festival não é mais do que um concurso para escolher uma canção que vai representar a RTP (sim, a RTP, não Portugal, percebem?) num concurso internacional de canções representantes de televisões (não países, ok?) que são membros de uma coisa chamada União Europeia de Radiodifusão, também conhecida vulgarmente como Eurovisão. Ora, nesse concurso internacional chamado European Song Contest (Em português Festival da Eurovisão), todos os acompanhamentos musicais são pré-gravados, o que mais ou menos obriga a que aconteça o mesmo no concurso português (embora entre um e o outro se possam fazer algumas alterações, mas isso não interessa para aqui). Por isso, se virem alguém a fazer um grande solo de guitarra ou de piano, esqueçam. Só as vozes são ao vivo. E isso leva-nos a outro tipo de consideração.

3. As (por vezes) desafinações dos cantores

É tradicional dizer-se do Festival da canção que o pessoal se farta de desafinar. E é verdade. Nesta semi-final voltou a acontecer com alguns concorrentes. Uns desafinaram, outros não conseguiram mostrar toda a voz que, eventualmente tinham e outros estiveram mesmo muito bem. Porque é que isto acontece? Não me parece que, à partida, se mande para um concurso destes alguém que não sabe cantar. Muitas vezes é a coreografia, a falta de tempo para preparar a voz, a falta de hábito de ir a palco cantar uma única canção, os nervos, sei lá. Desta vez as mais prejudicadas foram a Mela (eliminada), que não conseguiu chegar com a voz onde ela sabia que chegava (o vídeo de apresentação estava perfeito) e a cantora dos Perpétua (apurados), talvez por efeito da coreografia. A Mila Dores que, quanto a mim, tinha a melhor canção (eliminada), não conseguiu colocar a voz que a canção precisava, principalmente no refrão. Do outro lado da coisa, há que destacar a Iolanda, sem dúvida a melhor intérprete da noite, numa canção de que não gosto, A jovem Rita Rocha que, embora cantando um estilo do qual estou bastante cansado devido à profusão de intérpretes do género no ativo teve uma excelente prestação vocal e o Noble, embora com uma canção terrível a fazer lembrar as baladas pop dos aos 80, que se saiu bastante bem, embora tenha falhado os falsetes todos.

4. As canções

Durante o processo fui comentando em círculos mais ou menos privados o que achava de cada canção e intérprete mas, depois das primeiras dez canções a concurso, a impressão geral é de que mais de metade destas canções pouco mais serão ouvidas a partir daqui. Para mim, as melhores eram "Água" da Mela e "Afia a Língua" de Mila Dores e Filipe Sambado. Ambas eliminadas. As outras, entre duas ou três de pop anacrónico, outras duas saídas desta nova onda de cantautoras da qual estou nitidamente a precisar de descanso, outras duas mais modernas mas pouco interessantes e a do Bispo... não gostei. 

5. As apuradas

Rezam os registos que as canções apuradas pelo juri, juntamente com o público são as de Nena, Rita Rocha, Perpétua, João Borsch e Iolanda. Depois a RTP voltou a abrir as votações para faturar mais um pouco e o público escolheu a canção do Noble. 

Poucas vezes acerto ou concordo com as escolhas, principalmente as do público, o cúmulo disso foi quando afirmei que a canção de Salvador Sobral era a melhor da primeira semi-final e levei na cabeça em todo o lado pela pouca hipótese que tinha "lá fora" por ser tão pouco "festivaleira". Eu por mim, estou como o Miguel Esteves Cardoso disse este sábado: "Fazer boa figura cá! Depois os estrangeiros lá..."

domingo, 25 de fevereiro de 2024

HOT CLUBE DE PORTUGAL VAI REABRIR NA PRAÇA DA ALEGRIA

Boas notícias!
Notícia de 21-02-2024 retirada do site da Câmara Municipal de Lisboa.
Que, por uma vez, se cumpra a promessa.


É considerado um dos melhores 100 clubes de jazz do mundo e vai reabrir portas em 2025, na Praça da Alegria, 47. O direito de superfície, por 50 anos, foi aprovado por unanimidade na reunião de câmara de 21 de fevereiro, e deverá ser submetido à aprovação da Assembleia Municipal.


O Hot Clube de Portugal, fundado em 1948, é um dos mais antigos clubes de jazz da Europa, sendo uma “referência a nível nacional e internacional na sua área de atuação”, considera a proposta hoje aprovada.
Instalado na Praça da Alegria, desde a década de 1950, um incêndio, em 2009, obrigou à deslocação do clube para outro edifício no mesmo local, onde se manteve nos últimos anos. Em 2023, após uma vistoria da Proteção Civil municipal, a Câmara determinou “interdição e desocupação imediata” do prédio na Praça da Alegria, 47 a 49, obrigando ao encerramento do espaço.
O encerramento, considera a Câmara Municipal de Lisboa, “representa uma enorme perda para a dinamização cultural da cidade de Lisboa, uma vez que a sua programação é única”.
De acordo com a proposta, o município "pretende continuar a apoiar o Hot Clube de Portugal”, tendo encontrado um espaço de caráter definitivo na Praça da Alegria, no prédio municipal números 47 a 49, num espaço que será reabilitado e recuperado “em duas fases”.
O clube, estabelece o acordo, compromete-se a começar a primeira fase da obra ainda em 2024, e reiniciar a sua atividade no próximo ano.
Em 2005, a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu ao Hot Clube de Portugal a Medalha de Honra da Cidade, por "serviços de excecional relevância" prestados à cidade.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Trabalhadores do Comércio - Objecto





Saiu no passado dia 20 de Outubro o novo disco dos Trabalhadores do Comércio, de seu nome "Objecto" (ou @bjecto?). Para não quebrar a tradição, já o tenho por aqui (desta vez paguei-o) e vou fazer-vos uma espécie de visita guiada pelas várias canções, seguida da minha opinião sobre o trabalho em geral. Se por acaso despertar a curiosidade a algum dos poucos leitores deste blogue e isso resultar na compra de mais alguns exemplares, ainda bem para a banda. Eu para mim não quero nada.


O disco abre com uma versão de "Cantar de Emigração" forte, de acentuado sabor "floydiano". Para quem, como eu, ouviu esta canção até à exaustão, cantada pelo Adriano Correia de Oliveira, é uma transição estranha do lamento para a raiva e a constatação de que muitas coisas mudaram pouco e que a falta de paciência e a saturação da espera trazem consigo maiores perigos. Mas o sentimento em si justifica-se, ou não fossem os próprios Trabalhadores do Comércio vítimas desse fluxo migratório.

"Puresta cidade" é uma espécie de Blues/Reggae escrito e cantado pelo Miguel Cerqueira, que aqui entrega o baixo ao "puto". É assim como se o próprio Chico Fininho se encontrasse com o Rui Veloso, o Carlos Tê e os Jáfumega para lhes contar como é a bida na ribeira cu'a merda n'álgibeira.

"Num momento fugaz" é a canção para um próximo episódio da saga James Bond, em que os vilões são todos os que lucram com a morte (políticos? Líderes religiosos?) e o nome do herói é "Medicis, Joe Medicis". Diana Basto é a voz dramática, expressiva como Bassey, potente como Turner.

Micas Bidênte é Minnie The Moocher à Trabs, na linha de outras bersões de discos anteriores. O humor a dar um ar de sua graça, como convém num disco dos Trabalhadores do Comércio.

"Os Bampirus" é outra bersom, ainda mais surpreendente, como só poderia ser para esta canção do Zeca. Será um riff à Purple? Teclas à Winwood? Progressão à Beatles? Que interessa? É uma rocalhada como poucas bandas conseguem fazer em Portugal por estes dias. Bálhom-nos os Trabalhadores.

"O Parque da Monsanto" é uma sequela de "Guardacielos" do álbum "Surge", do Sérgio Castro, esta em português e cantada pela Daniela Costa e coro. Muitas vezes olhado como apenas uma teoria da conspiração, não era má ideia a Comunicação Social honesta, se ainda existe, pegar no assunto e esclarecer de vez a dúvida: vapor de água, fumo de combustível de avião ou químicos para tentar controlar o clima? Estamos ou não a ser envenenados sem saber?

"Na Desportiba" é a canção que faz a ligação aos Trabalhadores do Comércio dos anos 80. Cumédia de Custumes em rifes rápidos e batida certa. Tudo tocado cómilfô!

"Meio mundo, meio mudo", sobre as narrativas e efeitos da comunicação durante a pandemia e seus efeitos psico-sociais é, para mim, a canção menos conseguida do disco. Gosto das partes mais despidas de instrumentação, mas depois há muita carga em cima das vozes no refrão. Muita música muito bem tocada, mas um pouco demais para o meu gosto.

"Blus do Compositor" é uma canção de Chico Gouveia escrita em finais dos anos 60, que esteve para ser parte de um disco que nunca aconteceu. Na altura teria algumas afinidades com o som do Quarteto 1111, que seria a banda do momento. Aqui aparece transformada numa espécie de Trad/Blues, coisa hoje em dia só possível de incluir num disco de Rock, se esse disco for dos Trabalhadores do Comércio.

"Bolero da Raiba nu Papel" é a história do bizinho que já ne molhe plus la farture dan sa tasse chaude, lamento carinhosamente embrulhado num inbólucro de Vozes da Rádio. Bonito, apesar do drama.

Como convém num disco que se preze, este também tem uma bónustraque. Chama-se "O Blues é Sufrimento" e é resultado dum improviso de fim de noite e de alguns contratempos sanitários de cariz mais ou menos doloroso. Delicioso. Não os contratempos, mas o Blu propriamente dito.

Que mais dizer de mais um álbum dos Trabalhadores do Comércio? Que são uma das bandas mais competentes do país em termos de som de conjunto, já o disse várias vezes e isso continua a ser verdade. Sabemos há muito tempo que os Trabalhadores do Comércio, não perdendo o seu corrosivo sentido de humor, são muito mais do que a banda que fez o "Chamem a Pulíssia". Fazem versões como ninguém, tocam todos os géneros músicais sem perder a coesão e ganharam, nos últimos três discos, pelo menos, uma outra dimensão interventiva, talvez mais séria, mas não menos acutilante. Este disco aproveita como nunca antes, as capacidades vocais de Diana Basto e Daniela Costa e as qualidades dos seus nove membros, mais os convidados. Não há ali ninguém que esteja a mais (provavelmente, nem a menos).

Já noutras alturas disse isto e poucos acreditaram, mas vão ouvir isto, que é um grande disco. Ah, e funciona tão bem no rádio do carro!

Sairam dois vídeos que ilustram dois dos temas do álbum:

"Na Desportiba"




"Puresta Cidade"



sexta-feira, 3 de novembro de 2023

The Beatles. Again?

The Beatles - Now And Then (Official Audio)


Saiu finalmente a tão profusamente anunciada "última canção dos Beatles". Chama-se "Now and Then" e faz parte de um conjunto de gravações caseiras feitas por John Lennon, que Yoko Ono entregou aos outros Beatles em 1994 e que incluía também as canções "Free as a Bird" e "Real Love", tocadas e arranjadas para serem usadas no projecto "Beatles Anthology", que consistiu na edição de um documentário, três coletâneas e um livro, em 1995.

Se "Free as a Bird" e "Real Love" foram incluídas nas coletâneas aproveitando as gravações da voz de John Lennon, já com "Now and Then" isso não foi possível pois não havia, na altura, a tecnologia necessária para separar a voz de Lennon do piano presente na gravação. Em 2022, graças a um software desenvolvido pela equipa do realizador Peter Jackson, foi finalmente possível separar a voz de John do piano e usá-la isoladammente. Usando este novo recurso, recuperaram-se as gravações já feitas em 1995 pelos outros três Beatles e acrescentaram-se novas partes, como a orquestra e um solo de Paul McCarteney feito "à George", pois deste só havia partes de guitarra ritmo e outros pequenos apontamentos. E ontem, depois de uma grande campanha de antecipação e de construção de expectativas, a coisa saiu finalmente e... meh.

Confesso que, conhecendo "Free as a Bird" e "Real Love", as minhas expectativas eram baixas. E, de certo modo, confirmaram-se. "Now and Then" é mais uma canção que não foi escolhida para figurar no último álbum de John & Yoko "Double Fantasy", nem sequer foi gravada em estúdio nas sessões de 1980, que permitiram a edição póstuma de "Milk and Honey". "Now and Then" não soa de todo a Beatles, mas sim a John Lennon de 1980, mesmo com as contribuições instrumentais dos outros três, os arranjos orquestrais e todo o tratamento e produção investidos na canção. Deve dizer-se, no entanto, que das três canções fornecidas por Ono, esta é claramente a melhor e mais bem acabada, com uma melodia bem construída (terei ouvido ali um cheirinho de Clive Langer/Elvis Costello/Robert Wyatt?) e a única que poderia ter entrado nos álbuns que mencionei acima, não fossem eles ocupados com metade das canções feitas por Yoko Ono, em alguns casos, muito mazinhas.

E pronto. A montanha voltou a parir um ratinho e assim acaba a carreira dos Beatles, até que lhe inventem um novo fim. 

Quanto às acusações a Ono e Paul e Ringo de editarem a canção só para faturar à conta dos outros, que já li por aí, não dou para esse peditório. Para os dois Beatles restantes acabou por ser um pretexto para se voltarem a juntar e fazer alguma coisa juntos, lembrando os velhos tempos. Já Yoko... acredito que pouco mais terá feito do que autorizar. Já Sean Lennon mergulhou de cabeça na produção. E quem é que o pode censurar por isso?

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Mais "produção nacional" #009

Puresta Cidade - Trabalhadores do Comércio


"Puresta Cidade" é o segundo single (depois de "Na Desportiba") do novo álbum dos Trabalhadores do Comércio "Objecto", a sair no próximo dia 20 de Outubro.

Pelas duas amostras (e pelos concertos que temos visto ultimamente), os Trabs continuam em forma e a mostrar que são uma das grandes bandas do país, embora continuem a ser das mais desconhecidas.

Vão ouvir. Os Trabalhadores são muito mais (e muito melhor) do que o "Chamem a Pulíssia".

E para o pessoal da rádio que diz que não há produção nacional suficiente, ouçam este e os anteriores. São capazes de descobrir alguma coisa.


quinta-feira, 8 de junho de 2023

Mais "produção nacional" #008

LST LISBOA STRING TRIO COM SOFIA VITÓRIA - OUÇO VOZES


Estreou a 06/06/2023, o novo single do próximo álbum dos LST - Lisboa String Trio

Ouço vozes (João Monge/José Peixoto) 
LST - Lisboa String Trio com Sofia Vitória 

José Peixoto (guitarra clássica/classical guitar) 
Marc Planells (alaúdes, sitar e percussão/ouds, sitar and percussion) 
Carlos Barretto (contrabaixo/double bass) 
Sofia Vitória (voz e percussão/voice and percussion) 

Álbum: Canções Concretas e Outras Histórias

terça-feira, 6 de junho de 2023

Mais "produção nacional" #007

SALVADOR SOBRAL - pedra quente




música e letra - salvador sobral e leo aldrey salvador sobral – voz max agnas – piano, teclados andré santos – guitarra e cordofones madeirenses andré rosinha – contrabaixo joel silva – bateria e percussões diogo duque – flautas e trompetes leo aldrey – teclados, percussões e ambientes sonoros, coros - sílvia pérez cruz, magalí sare, lucia fumero gravado entre lisboa e Barcelona no haus, cacri studio e sol de sants studios por leo aldrey, makoto yagyu, alberto pérez e nelson canoa Produzido por Leo Aldrey. Misturado por Leo Aldrey Supervisão de mistura Campi Campón Masterizado por Tiago de Sousa

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Mais "produção nacional" #006

"Lua", António Zambujo, música do próximo álbum "Cidade"



Letra: Miguel Araújo Música: Miguel Araújo Créditos vídeo: Telmo Domingues