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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Estórias da minha estante #001

Começa aqui mais uma rúbrica neste blogue. Posso não ser das pessoas que vocês conhecem com a maior coleção de discos mas acho que, com mais de 800, entre os vários formatos, consigo ter algumas coisas para contar sobre o modo como alguns deles cá vieram parar. Nem todas terão piada. A maior parte são curiosidades que só interessam a melomaníacos como eu, mas vamos ver o que sai daqui.

A primeira história (e muitas das seguintes também) fala da dificuldade em se conseguir encontrar certos discos para comprar. Se era difícil para mim, antes de começar a trabalhar, conseguir juntar dinheiro para comprar música, muitas vezes me aconteceu ter dinheiro, andar à procura de um disco específico e ele não existir em lado nenhum. Com os estrangeiros ainda se conseguia, pedindo a alguém que fosse ao estrangeiro ou mandando vir de fora em algumas lojas de discos que tinham essa possibilidade, sendo que esta última opção fazia com que os preços subissem ao ponto de ter de estar um ano sem comprar mais nenhum. Quanto aos portugueses... se não havia, não havia. O contato direto com as editoras estava praticamente vedado ao cliente final e os donos das lojas de discos só nos sabiam responder "no armazém não há".

Estava-se no ano de 1981. Eu tinha comprado o "Chão Nosso", primeiro álbum do Grupo Trovante, alguns anos antes e nesse ano saiu o excelente e muito aclamado "Baile no Bosque", que fez do grupo um sucesso de vendas e que toda a gente passou a ter em casa. Eu sabia que, entre 1976 e 1981, o Trovante tinha editado alguns singles e descobri que havia também um álbum, chamado "Em Nome da Vida". Comecei então a procurá-lo pelas melhores lojas de discos (então chamadas de discotecas) que conhecia. Mas nada. Ninguém conhecia o disco e quem conhecia nunca tinha tido à venda, "não havia no armazém" e nem sequer sabiam qual era a editora. Dei mais umas voltas, fui a discotecas mais pequenas e acabei por descobrir, numa papelaria da CDL (editora ligada ao Partido Comunista Português), que o disco existia de facto, tinha sido editado pela própria CDL, através de uma pequena editora de música que lhes pertencia (fiquei depois a saber que se chamava "Mundo Novo"), mas que não, não iam ter à venda porque já tinha saído há três anos e de certeza que estava esgotado. 

Desanimado voltei a casa para dizer ao grupo com quem costumava juntar-me para ouvir música que tinha ido procurar o disco, mas que a busca tinha terminado porque o disco deveria estar esgotado e dificilmente seria reeditado. 

Estava lá nesse dia uma outra amiga nossa que tinha começado recentemente a frequentar o grupo, por razões que não interessam para esta história, e que disse de repente: "Eu conheço esse disco! A minha mãe trabalha no Comité Central do PCP e eu já lá vi esse disco à venda. Se quiseres, compro e trago-to!". Logo ali se combinou que ela faria uma visita à mãe e traria o disco para quem o quisesse comprar. No fim, arranjaram-se dois, creio eu. Um é o que aqui tenho, o outro não sei quem ficou com ele. 

Os pormenores mais intrincados da estória escapam-me um pouco mas, no geral, estou certo de que foi mais ou menos assim que aconteceu.

Fica aqui uma das canções do disco, com o agradecimento ao Aristides Duarte, que entre artigos, blogues, livros e programas de rádio já fez mais pela música portuguesa do que eu poderei fazer. Este vídeo foi retirado do seu canal de YouTube, o qual aconselho a todos que subscrevam, se ainda não o fizeram.


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