Havia uma tardes de brincadeira com as outras crianças, quintal acima, quintal abaixo, comia-se o tal do bacalhau e, mais tarde, já de noite, a festa deslocava-se para a cave onde havia umas sessões de canto, as vozes baixavam e, aqui e ali, via-se uma lágrima a escorrer duma face intercalada com algumas sessões de riso devido à alteração das letras de algumas canções (lembro-me do "Natal dos Simples" de Zeca Afonso, em que a frase "Pam-pa-ra-ra, pi-ri, pam-pa-ra-ra, pi-ri..." se transformava em, "Vão parar à PIDE, vão parar à PIDE..."). Sabia lá eu o que era a PIDE. Mas eles riam-se, eu ria-me.
Uma das canções que nunca faltava e de que eu gostava particularmente era aquela a que eu chamava "Vemos, ouvimos e lemos" e que mais tarde vim a descobrir que tinha o nome de "Cantata da Paz". Desta eu conhecia o disco. Era um daqueles que tinha que tocar baixinho e com a janela fechada e que eu ouvia em casa do meu avô, da coleção dos meus tios.
Uma das canções que nunca faltava e de que eu gostava particularmente era aquela a que eu chamava "Vemos, ouvimos e lemos" e que mais tarde vim a descobrir que tinha o nome de "Cantata da Paz". Desta eu conhecia o disco. Era um daqueles que tinha que tocar baixinho e com a janela fechada e que eu ouvia em casa do meu avô, da coleção dos meus tios.
Mais tarde vim a descobrir que os "Bacalhaus" eram as festas de despedida dos amigos que partiam para a guerra colonial, a famosa "Guerra do Ultramar". Não sei se voltaram todos. Nem cheguei a saber quem eram os que se despediam. Essas coisas não se diziam aos "miúdos". Mas sei que muitos voltaram diferentes. Alguns nunca mais foram os mesmos. Outros, poucos, tornaram-se pessoas ainda melhores, em face do que viram enquanto lá estiveram. Um deles, pelo menos, tornou-se uma das melhores pessoas que passaram na minha vida e deu-me muito do que hoje tenho de bom.
#3. Francisco Fanhais - Cantata da Paz
(Letra: Sophia de Mello Breyner; música: Francisco Fanhais)
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