"E volto a pensar nas quantidades infinitas de boa música que perdemos ao longo das nossas vidas apenas porque há gente que acha que pode escolher pelos outros..."
Isto escrevia eu há mais de três anos ao tomar conhecimento da saída do álbum "À Bolina" do Rui Azul. De então para cá fui desafiado para vários concertos mas, curiosamente, de então para cá nunca fui ao Porto e o Rui nunca veio tocar a Lisboa, por isso nunca calhou.
Mas eis que, segundo o próprio, ao fim de 15 anos (!!!), o Rui Azul veio finalmente a Lisboa. Quinze anos... Ou temos um país grande demais ou passa-se algo de estranho na produção cultural em Portugal.
Aberrações culturais à parte, o convite chegou do CCB para o ciclo "Jazz em Dose Dupla" em que, às quintas-feiras, de Janeiro a Abril, um músico português e um estrangeiro se juntam para dar música ao pessoal. E ainda por cima à borla! Sim, algo escapou à aberração (é pena é terem de ser só dois, obviamente para sair mais barato, mas pronto...). Sendo que Rui Azul é o músico português (sim, pelo que se escreveu antes poderia existir a dúvida), o convidado estrangeiro (mas já quase meio-tuga) foi, compreensivelmente, Wolfram Minnemann, o companheiro de estrada de longa data, para uma sessão de Blues a voz, piano e sax.
Sem grande coisa para fazer (a zona do CCB a partir do fim da tarde é uma tristeza com "M" grande) cheguei bastante cedo e ainda cheguei a temer pelo êxito da iniciativa quando, a menos de trinta minutos da hora marcada, a sala se encontrava quase vazia mas acabei por perceber que eu é que estava um pouco fora. A verdade é que o "auditório" quase encheu em quinze minutos (e continuou a encher já com o concerto em andamento, não percebo esta gente... adiante...). Os músicos entraram com alguns cuidados (como que estudando o "adversário") mas, a pouco e pouco, foram construíndo um ambiente descontraído e casual ao jeito de "Blues-bar" e aumentando o passo até acabar em autêntica festa. Não fora o "encolhimento" do público (não sei se por ser lisboeta, se por ser "gente séria" ou pela percentagem de "debutantes"), com medo que "não fique muito bem" pedir mais, e aquilo não parava por ali.
Tudo bem. No fim os músicos estavam esgotados mas radiantes. O público desapareceu num ápice (por falar nisso, também o Minnemann...) mas o Rui Azul não se escusou a breves momentos de convívio, espalhando simplicidade e simpatia (e não só) por quem ficou por ali mais um pouco.
O ciclo "Jazz em Dose Dupla", parece estar calhado ao sucesso (e não só por ser à borla) mas alguns melhoramentos no "auditório" não cairiam mal. Uma outra disposição da "plateia" evitaria a necessidade de ter pessoas sentadas no chão gelado e a cobertura da janela por trás do palco daria com certeza muito maior conforto aos músicos. Quanto ao pessoal que vai lá fora ao cigarrito, olha... aguentem-se!
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