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domingo, 13 de setembro de 2009

Músicos defendem piratas?


(não, não é deste que estou a falar...)

A propósito de "pirataria musical", ou seja, a prática de downloads ilegais de música, chamou-me o meu amigo "Emigras" (como faz muitas vezes) a atenção para este artigo da BBC News, sobre esse mesmo assunto.

Ora parece que três associações (uma de músicos, uma de autores e outra de produtores) se juntaram para condenar a anunciada decisão do governo inglês (apoiada pelas associações de direitos fonográficos e pelas editoras) de banir da internet todos os que fossem apanhados a "piratear" conteúdos protegidos por direitos de autor. Segundo os músicos, autores e produtores membros das associações signatárias, a exagerada repressão a estas actividades poderá levar a uma quebra de interesse dos jovens pela música ou até mesmo a uma recriminação aos próprios artistas. Diz Billy Bragg, conhecido por não ter "papas na língua", que muita gente descobre a música através dos downloads ilegais e acabam por pagar a música comprando bilhetes para os concertos e que castigar os infractores só iria desencorajar os jovens de se tornarem fãs de música. Já o guitarrista Ed O'Brien, dos Radiohead diz que "simplesmente não resulta" porque há muitas maneiras de o fazer. A opinião destas associações é que o problema deve ser equacionado de maneira a arranjar uma solução que não prejudique ninguém.

E em Portugal? Que pensam os artistas cá do sítio?

Nas entrevistas que enviei há uns meses a músicos portugueses, perguntava a certa altura se os downloads ilegais prejudicavam os artistas. Não sendo, obviamente, uma amostra representativa de nada a não ser dos "artistas que têm pachorra para responder a perguntas feitas por um tipo qualquer dum blogue e que não conhecemos de lado nenhum", constato que a percentagem de respostas está assim distribuída: Sim, prejudica - 10%; Não, não prejudica - 32%; Por um lado sim, por outro não - 58%. Quer isto dizer o quê? Que mais de metade dos artistas nesta lista acha que há vantagens e desvantagens para os músicos na partilha de ficheiros. Acresce ainda que, muitos dos que partilham desta opinião acham que o prejuízo é mais para as editoras do que para os próprios músicos. São de salientar ainda as tentativas feitas por editoras portuguesas de evitar a gravação de ficheiros a partir dos CDs (tenho cá dois ou três com software anti-gravação, de repente lembro-me de um da Maria João e do Mário Laginha e de outro do Jorge Palma) e das campanhas levadas a cabo por alguns músicos através de pedidos ao público feitos na rádio ou nos concertos no sentido de comprarem CDs originais.

E eu? Quase todos vocês conhecem os "cuidados especiais" que eu tenho para com a minha colecção de discos, que vai ao ponto de não contemplar sequer a hipótese de empréstimos. Facilmente se conclui que eu sou um daqueles adeptos da compra dos CDs originais, com nº de série, capa bem impressa e um completo "livrinho" anexo. Mas também é verdade que, em tempos de crise, também tenho por aqui uma copiazitas e uns ficheiritos descarregados da net. O que se passa é que, principalmente no que respeita à música portuguesa isso me tem servido basicamente para duas coisas: para me ajudar a escolher a música a comprar (com o pouco dinheiro que tenho não há lugar para enganos) e para me ajudar a escrever neste blogue, sendo que neste segundo caso me socorro mais do que compro e das minhas incursões no Myspace. Se isto prejudica os músicos? Por um lado prejudica os autores dos discos que acabo por resolver não comprar (mas também não há grande vantagem moral em se vender um disco que acaba por não ser ouvido, certo?) mas por outro proporciona-me o conhecimento (e aquisição) de outros que nunca compraria sem esta possibilidade. Da mesma maneira, ganham (dentro das limitações de alcance que este blogue tem) os músicos que aqui divulgo e aqueles que vêem o seu público aumentar nos concertos. Se multiplicarmos isto pela quantidade de blogues que divulgam música, parece-me aí já um benefício considerável.

Mesmo assim não penso que as coisas estejam bem no pé em que estão. Penso que há maneiras de resolver esta situação a contento de todos e não só da maneira que se fala em Inglaterra (pagamento de uma subscrição por acesso às rádios ou através da inserção de publicidade nas mesmas). A minha ideia tem um pouco a ver com isto, mas com algumas diferenças e passa por sites legais de disponibilização de ficheiros grátis para os ouvintes e pagos aos autores e editoras através de publicidade online. Eu, por mim, não me importo de levar com meia-dúzia de anúncios e de tomar conhecimento de produtos (que depois posso ou não vir a comprar), desde que isso me dê acesso grátis a algo que me agrada. E isto seja música ou outra coisa qualquer. Se se for fazer as contas às toneladas de papel que as empresas gastam em publicidade para pôr nos correios que não chegam a ser lidas (suscitaram sim um aumento de vendas dos cestos de papel para instalar junto às caixas de correio das escadas), penso que seria mais vantajoso para elas alinhar num tipo de publicidade deste tipo, em que todos ganhariam.

Estas são as primeiras impressões que me suscita a notícia da BBC (e mesmo assim a prosa já vai longa). Fico à espera da vossa contribuição e das vossas ideias para resolver este problema de maneira a que não se gere desemprego no sector editorial, que o investimento em música nova continue a existir, que nós tenhamos acesso a mais e melhor música e, princípio básico para tudo o resto, que os músicos possam continuar a fazer música. Boa, de preferência.


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