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domingo, 27 de agosto de 2006

Diz-se cada coisa...

Na secção "Cartas+Mailes" da revista Blitz nº3 dei de caras com esta "pérola" da Filosofia Moderna escrita por um tal "ruimvg":

Penso que o acesso ilegal a obras de arte, sejam elas fonográficas, artes plásticas, cinematográficas ou outras, prejudica aquilo que entendemos por arte.(...)

Até aqui, o autor parece preocupado com as cópias ilegais das obras de arte e com o resultado que essa prática pode ter na actividade dos artistas. A afirmação que vem a seguir, explicando o que de facto o autor quer dizer com esta primeira, é que se revela espantosa e reveladora de um tipo de mentalidade cada vez mais comum neste país:

(...) Dado o acesso de cada vez mais pessoas à Arte, acabamos por não saber se uma grande obra é arte ou não. Isto numa altura em que cada vez aparecem mais artistas e bandas. Bandas ou artistas como os U2 ou Bruce Springsteen deixaram uma marca na história por terem beneficiado de algumas limitações no acesso às suas obras, o que não acontece agora.(...)

Este texto, só por si, não me despertaria qualquer tipo de atenção especial se não fosse o reflexo e a expressão de uma maneira de pensar tão comum em certos círculos da suposta juventude "alternativa" do país.

Ora então o rapaz não sabe se uma obra é Arte porque há muita gente a ter acesso a ela, ou seja, a Arte tem de ser validada e só pode ser reconhecida como tal quando é apenas conhecida por elites privilegiadas. São essas pessoas que decidem (segundo julgo compreender) o que é e não é Arte.
A partir do momento em que a obra passa para o domínio público, dificilmente poderá ser considerada Arte.

A seguir vem uma outra teoria extraordinária: uma em que, segundo o autor do texto, os artistas deixam a sua marca na história se o acesso às suas obras for limitado (às tais elites, suponho). Quer isto dizer portanto que, se Portugal tivesse, nos primeiros tempos de Springsteen ou U2, um mercado discográfico a funcionar correctamente, estes não ficariam na história da música. Isto porque, obviamente, nunca houve restrições no acesso à música destes artistas nos seus países de origem, nem sequer em nenhum dos países anglo-saxónicos.

Conclusão: A História da Arte Mundial depende da comunidade "pseudo-intelecto-alternativa" portuguesa e do que ela conseguir conservar longe do alcance da "populaça".

É bom viver num país onde até as maiores alarvidades podem ser escritas na imprensa. Se fosse obrigatório ser inteligente para se escrever em revistas (mesmo que apenas nas cartas dos leitores), que seria feito da Intelectualidade Portuguesa?

Viva a Liberdade e o treino de tolerância que nos proporciona!
(Se calhar por isso é que dizem que a falta de Liberdade é a principal causa das guerras).



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