quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Que é feito do direito à diferença?
Imagem: Blitz
Há uns tempos li uma notícia sobre o Cameraman Metálico (sim, esse, claro que o conheces) em que se dizia que o homem estava na falência e que vendia grande parte do material e até muito do acervo que foi juntando ao longo dos anos, a quem quisesse comprar. Aquilo pôs-me a pensar na imprensa muiscal portuguesa ou, mais propriamente, na inexistência da mesma. Afinal o meio musical potuguês é tão pequeno e insignificante que, além de não proporcionar uma carreira à maior parte dos músicos, consegue levar à miséria gente que passou uma vida inteira a tentar descobrir e documentar tudo o que havia para descobrir e documentar.
Hoje fiquei a saber que o António Sérgio foi afastado da Radio Comercial. Segundo rezam as notícias, o afastamento prende-se com cortes orçamentais e com o facto de o programa que fazia ("A Hora do Lobo", ultimamente chamado "Nas Horas") não se enquadrar no novo projecto da estação.
Quanto aos "novos projectos" das estações de rádio já temos conversado muito por aqui e já vimos (e ouvimos) a bosta que têm sido. Agora despedir um dos melhores profissionais de rádio do país, um homem que é, ainda hoje, um dos "radialistas" mais avançados no que respeita a pesquisa e divulgação de tudo o que é novo e tem qualidade (já para não falar no que fez pela música portuguesa em termos de edições de bandas novas - que o digam os Xutos) alegando "cortes orçamentais" só atesta a completa estupidez que reina nas cabeças dos "vendedores de fast-radio" que temos à frente das estações deste país.
Pessoalmente, só falei uma vez com o António Sérgio. Um dia, ouvindo o "Som da Frente", reparei, já para o fim do programa, numa banda com um som que me despertou a atenção mas do qual não tinha apanhado o nome no princípio da música. Por impulso telefonei para a rádio (naquele tempo tinha sempre o número à mão por causa dos passatempos) a perguntar quem eram. A pessoa que atendeu não sabia mas não se atrapalhou: "olha, fala com o António Sergio". Logo atendeu e me deu as informações que eu precisava: "Esses gajos chamam-se Pogues e também gosto muito deles. Não há é discos deles à venda cá. Tens de comprar de importação". Quando agradeci a informação e pedi desculpa pelo incómodo (sempre fui muito bem educado), ele respondeu-me qualquer coisa como "não incomodas nada, é para isso que cá estamos!"
Durante anos ouvi os programas do António Sergio (agora menos, por causa das horas para onde o exilaram e do patrão que não gosta que eu chegue tarde) e durante anos encontrei o Cameraman Metálico nos concertos. Já há tempos, comentando um blogue qualquer por aí, tinha falado das saudades que tenho de programas como o "Dois Pontos" ou o "Morrison Hotel". Até aqui ainda ía à Comercial quando me davam as saudades do "Som da Frente". Depois disto acho que vou tirar essa rádio das sintonias pré-definidas do rádio do meu carro.
O meio "musical" português continua a fazer vítimas. Nos últimos tempos tem tocado mesmo àqueles que mais têm feito por ele. Em todas as actividades há os que passam sem deixar marca (a maior parte) e uns poucos que se destacam pela diferença, nos casos presentes pela qualidade do trabalho que fazem. Como diriam os próprios Pogues, "Men You Don't Meet Every Day".
Na Radio Comercial perdeu-se o "direito à diferença". Que outros direitos estaremos ainda para perder?
"I'm A Man You Don't Meet Every Day"
Artista: The Pogues
Álbum: Rum, Sodomy & the Lash
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário