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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Mal dos anos 80! Pronto, já disse!

Dizem que eu tenho a mania de ser “do contra”. Eu gosto de pensar que tenho direito à minha opinião. Não tenho culpa de, em muitas coisas, pensar diferente da maioria. Nem sequer é mania de ser diferente que, por exemplo no que toca a gostos musicais, a mim até me dava jeito gostar do mesmo que os outros.

É, segundo parece, o que se passa com a minha opinião sobre o panorama musical dos anos oitenta.

Em primeiro lugar tenho de dizer que não me surpreende nada a presente onda revivalista no que toca à música dos “eighties”. A grande maioria dos profissionais de topo nas rádios de hoje anda pelos trinta e tal. Nos anos 80 eram adolescentes. Resultado: “Vamos lá impingir as “malhas” que ouvíamos quando éramos uns gandas malucos”. Como já passei um bocadinho dessa idade, é natural que me falte um bocado de entusiasmo para esse tipo de música.

É verdade que a década de oitenta até começou com um saudável clima de inovação quase revolucionário, pensava-se. Em 1989, no entanto, já eu tinha percebido que a música deixara de pertencer aos músicos e que quem mandava tinham passado a ser as grandes empresas, com enormes campanhas de marketing, comprando rádios e abrindo canais de televisão destinados exclusivamente a vender a música dos catálogos das grandes editoras. Estas, por sua vez (já na entrada dos “noventas”), ainda se dedicaram a comprar as “independentes”, mantendo-as como subsidiárias para poderem controlar também o mercado “alternativo” com estratégias de “anti-marketing” que convenciam (convencem) a camada mais “culta” (?) da juventude de que ouvia música que não estava ao alcance de qualquer um.

Em Portugal, a década começou com um tal de “boom” do rock Português. Alguém descobriu que se conseguia vender música portuguesa e, de repente, começaram a sair discos de tudo o que era músico e não era, gravados em condições paupérrimas, praticamente sem produção, mal tocados, mal cantados, com letras terríveis e músicas indescritíveis, desde que se pudesse apanhar a onda de sucesso que parecia afundar o país. O resultado disto tudo não podia ser bom e, lá para o meio da década, já se tinha percebido que, do magote todo, muito pouco tinha ficado. Poucos gravaram o segundo LP e muitos nem passaram do primeiro ou segundo Single. Em 88 pouco mais restava da Música Moderna Portuguesa do que umas 10 (se calhar estou a exagerar) bandas de relativo sucesso contratadas pelas editoras principais (só para terem um “nome” nacional), Um Rock Rendez Vous em plena decadência, algumas editoras independentes que editavam os discos “dos amigos”, e os maduros de sempre, espalhados pelas garagens escuras do país (e nem net havia ainda). Mas já por volta de 84 se tinha percebido onde isto ia dar quando, nos “topes” televisivos, a música portuguesa começou a ser substituída por bandas “Pop-rock” de consumo rápido, com muita renda e ainda mais maquilhagem, por bandas de “Hard Rock” com desconto de quantidade em cabeleireiros unisexo e por uma coisa chamada por alguns de “Euro-pop” mas que não era mais do que música de bailarico centro-europeia com batida electrónica (por cá há quem chame “pimba” ao mesmo tipo de música feito por portugueses). Em meados da década qualquer bosta, desde que tivesse um tele-disco vistoso e viesse de fora, vendia.

A rádio em Portugal também não ficou parada. Os efeitos da liberdade adquirida em 74 tinham feito “explodir” a rádio. Tudo se ouvia em todos os (poucos) canais. Com o aumento exponencial dos receptores equipados com FM, criou-se um novo culto radiofónico: o dos programas de autor. Não havia quem não tivesse um ou vários programas que não perdia, e muita gente passava horas a gravar programas para cassetes de áudio (eu incluído). Entrou a década de oitenta e a coisa foi-se tornando mais difícil. Os “programas de autor” foram-se acabando, substituídos por emissões de “topes” e grandes êxitos, nasceu a famigerada “playlist”. Por volta de 87 praticamente só restavam o Som da Frente do António Sérgio e o Morrison Hotel do Rui Morrison. Por um momento respirou-se algo de novo com o aparecimento das “Rádios Piratas” mas depressa a “legalização” acabou com as “revoluções” e pôs os radialistas nos seus “devidos lugares”. Nasceram as “Rádios Jovens”, começou a trabalhar-se às claras para a estupidificação: “És jovem, és um ganda maluco, ouves a música que eu te impinjo (és um anjinho)”.


Se houve boa música nos anos 80? Claro que houve… alguma… bastante, até.
No fundo nem consigo dizer se a música foi melhor na década de setenta ou na de oitenta. O que eu sei como certo é que nos setentas conheci um monte de boa música na rádio que não conseguia comprar (editava-se pouco em Portugal e eu não tinha dinheiro para comprar “importações”) e nos oitentas, já a trabalhar e com algum dinheiro, a rádio e a televisão passaram a dedicar-se à repetição massacrante da mesma música que, na maior parte dos casos, ainda por cima era má… mesmo muito má!!!

Ok Xano, podes bater. Mas não te vai servir de muito.
Já agora, um bocadinho de “eighties” aí em baixo. Uma autêntica pérola... ou duas?
Topas???






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