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terça-feira, 1 de maio de 2007

Anos 70 (parte VIII) - Porque é 1º de Maio!




Há, na história da música popular, uma quantidade razoável de álbuns míticos, alguns porque são de facto bons, outros porque "caíram no goto", outros porque venderam muito, outros ainda porque alguma circnstância exterior à própria música os tornou míticos (não, hoje não vou falar do Curtis nem do Cobain).

Portugal, apesar de ter poucos (e com um "pedestal" pequenino), também tem alguns. Um deles é este "Pois Canté!!" do Grupo de Acção Cultural - Vozes na Luta. Com um nome deste tamanho não espanta que o pessoal, em tempo de PREC (Processo Revolucionário Em Curso, para quem nunca percebeu o que queria dizer), MFA, RAL1 e um milhão de outras siglas, lhes chamasse apenas... GAC!

Ora o GAC nasceu como uma espécie de grupo de apoio cultural à luta popular (operários, camponeses, soldados e marinheiros, e tal) e, durante o tal PREC, entre sessões culturais de luta e alfabetização (não estou a gozar, era mesmo assim) editaram alguns singles e chegaram mesmo a concorrer ao Festival da Canção com um hino revolucionário (vocês, os mais novitos, não estão bem a ver a música que concorreu ao Festival de 75).

Depois do 25 de Novembro de 75, morto o PREC e "arrumado" o Poder Popular, o GAC, embora não perca o panfletismo guerreiro das suas letras, passa a incorporá-las em canções mais chegadas às músicas tradicionais portuguesas, algumas delas com arranjos geniais (ou não andasse por lá o Zé Mário Branco).

Em termos estritamente musicais, o álbum é em geral bastante bom, com algumas opções bastante arrojadas no que diz respeito aos arranjos, de tal maneira que há canções que ainda hoje o José Mário Branco canta ao vivo (o caso da que fica aí em audição) e que poderiam ter sido feitas... amanhã.

Por outro lado (ou pelo mesmo, a bem dizer) notam-se já as sementes daquilo que virão a ser muitos anos mais tarde os Gaiteiros de Lisboa (alguns dos actuais membros já faziam parte do GAC e há que não esquecer a colaboração que o José Mário Branco sempre tem dado ao grupo). De todos estes factores, e mais do facto de ser um marco na memória de todos nós como "Banda Sonora Original" de um tempo vivido de maneira especialmente intensa (já para não falar da falta que nos faz uma edição em CD) lhe ficou a carga mítica que transporta.

Dito isto, ouvidos agora de uma maneira mais... diria... crescida...(?)... e tendo em conta algumas "escorregadelas" do Gac para o lado da "cançoneta politiqueira sul-americana" que se revelam muito inferiores ao resto do álbum, acho que (em termos estritamente musicais) gosto mais da maioria dos discos tanto do José Mário Branco a solo como dos Gaiteiros de Lisboa.

Pois, mas neste é que está a música "daquela altura"!



"Cantiga do Trabalho"
Artista: Grupo de Acção Cultural - Vozes na Luta
Álbum: Pois Canté!!


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