terça-feira, 24 de janeiro de 2006
"Bolinando" em Azul
Imagem: Rui Azul
Uma das vantagens de se tocar vários instrumentos (e tocá-los bem) é poder fazer a música que se quer sem ter de a explicar a ninguém, evitando as perdas inerentes à comunicação e os ruídos na transmissão.
Rui Azul toca tudo e mais alguma coisa neste disco. Além dos instrumentos, ainda é o resposável pela produção e tudo o que com ela se relaciona e ainda mais a banda desenhada e os textos. É obra! Se, por um lado, dá azo a pequenos exageros nos adornos aqui e ali, por outro traz uma coesão notável e uma sensação de que o autor conseguiu (mesmo quase) chegar onde queria ir.
É, na minha opinião, um excelente disco de Jazz, na linha de outros excelentes discos de Jazz feitos em Portugal por pessoas como Laurent Filipe, Carlos Barretto, Carlos Bica e vários outros com a característica inerente a todos eles: nenhum é igual nem parecido com algum dos outros, nenhum se fecha na esterilização criativa que caracteriza o Jazz tradicional, nenhum embarca na frieza estética que vai caracterizando muito do Jazz que se faz na Europa e todos têm algo em comum que não consigo explicar. Será do Sol?
Neste caso, mais do que na maioria dos outros, a música apela a viagens que se vão tornando familiares pelo norte de África mas estende-se mais para Este pela rota da seda (ou da sede) até ao Extremo Oriente, fazendo-me encontrar pelo caminho referências que fui acumulando ao longo dos anos, desde Fausto a Tuatara (já aqui falei deles).
Como também já disse algures por aqui, não sou fã de "Free Jazz" (leia-se "Jazz dissonante", que eu não sou muito entendido nestas coisas dos "compartimentos") mas até este tem coisas que me fazem abrir excepções, no caso as "667 sucessivas salsichas" (música 14) , uma das minhas preferidas neste disco mas que não vou deixar aqui a tocar porque já sei que ía ter protestos.
Assim sendo, fica aqui a música 2, precisamente "Rotas da Sede" que funciona um pouco como súmula para quem quiser descobrir o resto do disco. Se quiserem, podem fazê-lo aqui. Não perdiam nada, antes pelo contrário.
Podem ver o Rui Azul em "Sax solo Concerto" no Sábado, 28 de Janeiro, às 21:30 h no Centro Cultural Mestre José Rodrigues, em Alfândega da Fé.
PS: É evidente que o Jazz é um tipo de música que se presta muito a ser prisioneiro de um certo tipo de "análise pericial". Ora, não sendo eu de maneira nenhuma "perito" em Jazz tive forçosamente de analisar o disco à luz do pouco que conheço do "estilo" e da muita música que fui ouvindo ao longo dos anos. Mas se calhar, às vezes um olhar "amador" consegue ver coisas a que o "profissional" já não dá importância, não é?
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