A musica “pimba” pura e simplesmente não existe!
Já há muito tempo que existe um circuito de música popular de cariz mais ou menos rural que, até há uns anos atrás, funcionava através de um mercado de cassetes áudio, produzidas por pequenas e obscuras editoras, vendidas nas feiras e em pequenos escaparates nas tascas e mercados locais. Era uma música derivada do folclore, com jeitos de fado, mais ou menos dançável cujas letras variavam entre o “malandreco” e o trágico tipo faca-e-alguidar, passando, claro, pelas referências à emigração, tema caro ao público-alvo a atingir.
Ninguém se preocupava muito com isso. Era na Santa Terrinha. Não incomodava ninguém.
O problema começou quando estes artistas populares, até aí conhecidos das festas e romarias, começaram a entrar subitamente no circuito de vendas “oficial”, às claras, aproveitando o mercado das cidades até aí pouco explorado e, ainda por cima, a vender mais do que os das grandes editoras. A música era alegre, as pessoas achavam piada às letras, a jovem classe universitária aderiu em massa e o fenómeno começou a incomodar os “poderes” instalados (e acomodados). Uma chatice!
Pegando no título de um sucesso da altura (“Pimba, Pimba” de Emanuel), logo alguém aproveitou e lhe deu o nome de “Música Pimba” que queria, na verdade, dizer “Música Bimba” (para quem não sabe, bimbo é o mesmo que parolo).
Não sei bem como (a “industria” e os críticos de música em Portugal saberão), o fenómeno tornou-se a grande preocupação nacional, gerando debates protagonizados por “doutas” cabeças pensantes da cultura nacional sobre os malefícios que esta música sem qualidade poderia trazer para o nível cultural dos portugueses.
A partir daí, os críticos passaram a meter toda a música popular de que não gostavam no “saco pimba” e chegámos ao extremo de hoje praticamente não existir música “ligeira” e de uma grande parte da música “pop” portuguesa ser considerada pimba!
Não obstante, todas estas músicas aí “ensacadas” continuam a vender. Como em todos os países da Europa e da América (Sul e Norte), há uma música popular, muitas vezes de baixa qualidade, que vende muito. A diferença é que nos outros países a aceitam, a vendem juntamente com a música de mais qualidade e não têm vergonha dela.
Para ter um povo evoluído culturalmente, a solução não é proibi-lo de ouvir o que gosta mas sim deixar as pessoas fazerem o seu próprio caminho. Divulgar toda a música educa os ouvidos e gera curiosidade por coisas com mais qualidade.
Aos “senhores” da cultura saiu-lhes o tiro pela culatra. A “Música Pimba” é uma invenção vossa, meus amigos. A “Música Pimba” não existe, meus caros. Ponham os pés na terra onde vivem, aprendam a conhecer o povo de que fazem parte e parem de inventar problemas onde eles não existem. Se têm vergonha de ser portugueses mudem de país, mas aviso-vos já que nos outros também há música desta!
Já agora, dêem uma "olhadela" com "ouvidos de ouvir" para dentro do “saco pimba” e descobrirão com surpresa que no meio daquela salganhada toda, há coisas que, embora vocês não gostem (e eu se calhar também não), têm alguma qualidade. Mais até do que alguns dos poucos “eleitos” da critica musical portuguesa.
Um pequeno exemplo em forma de pergunta: Os “Anjos” não terão mais qualidade do que, por exemplo, os “Fingertips”?
Sem comentários:
Enviar um comentário