Cartaz do Festival "Junta-te ao Jazz Benfica 2015 |
O Lisboa String Trio é composto por José Peixoto (guitarra clássica), Bernardo Couto (guitarra portuguesa) e Carlos Barretto (contrabaixo). Ontem à noite, por razões de sobreposição de calendários, Carlos Barretto foi substituído por António Quintino o que, se alterou um pouco o som do grupo, tornou o concerto ainda mais "único". Qual então a razão de ser do título deste artigo?
Na verdade, consegui ir a este concerto um pouco por ser um tipo mais atento do que o habitual a estas coisas da música (para alguns, serei um pouco obsessivo, eu sei) e pela grande admiração que tenho pela música do José Peixoto, que faz com que o vá "seguindo" pelas chamadas "redes sociais". Soube da sua realização na manhã do próprio dia e, de imediato, resolvi que não podia perder a oportunidade. E aí começou a "Odisseia". A saber:
Fui ao site da Junta de Freguesia de Benfica, organizadora do evento, consultei o programa, confirmei a realização do concerto, tentei saber o horário das bilheteiras e... nada! Nenhuma referência. Encontrei o número de telefone do Auditório. Telefonei uma... telefonei duas e... nada! Ninguém atendia. Apesar de ter coisas para fazer, decidi que valores mais altos se levantavam e... ala para Lisboa. Chegado ao Auditório... porta fechada. Indaguei na recepção dos serviços administrativos da Junta e... Nada feito! "Espere um pouco (disse-me o diligente recepcionista) que eu vou ligar a ver se está alguém no Auditório". "Bom (pensei eu), pelo menos tenta". Depois de largos minutos à espera, alguém atendeu o telefone do Auditório (que, aliás, é na porta ao lado). "Olha, está aqui um senhor por causa duns bilhetes...". Lá me fizeram o especial favor de me atender e... "A bilheteira abre uma hora antes do concerto!". Eu estava ali, o vendedor de bilhetes estava ali, mas não podia comprar bilhetes. No próprio dia do concerto... "E posso ao menos reservar?"... (pausa para pensar...)... "Sim, isso pode. Deixe-me só aqui apontar. Por acaso não tem uma caneta que me empreste, não?...
E pronto, lá voltei para casa com uma reserva feita pela minha esferográfica, coisa que, para mim, seria normal fazer por telefone, isto não considerando as opções "modernas", coisas estranhas como compra ou reserva de bilhetes online, bilheteiras abertas em horários de expediente e outras coisas aparentadas. Pelo caminho, fui ganhando uma certa apreensão (considerando que nem toda a gente está disposta a sujeitar-se a estas andanças) quanto à afluência de público ao concerto. Infelizmente, com razão.
O Auditório Carlos Paredes tem 115 lugares. Para um concerto de um dos melhores grupos do país, composto por grandes músicos e depois de ter editado aquele que foi, para mim, dos que ouvi, um dos melhores discos nacionais editados em 2014, estavam cerca de... 20 pessoas. Os músicos, profissionais competentes e experientes nestas coisas, conseguiram não se deixar abater pela visão de uma sala vazia à sua frente e ofereceram-nos uma grande actuação, onde o mais que comprovado virtuosismo dos músicos se complementou com uma cumplicidade e coesão notáveis. Mas não há dúvidas que, em termos de ambiente e reacção do público à música que ia sendo tocada, o concerto perdeu bastante. Volto a dizer que foi um dos melhores concertos que vi este ano. Fico a imaginar como teria sido se a sala estivesse cheia...
Porque é que estas coisa acontecem? Como é que os grandes músicos deste país são obrigados, vezes sem conta, a tocar para salas vazias? Neste caso não foi, com certeza, culpa do preço dos bilhetes (5 euros). Sim, uma Junta de Freguesia organizar um Festival de Jazz é um feito de realce. Mas... assim? Nem aquilo é um Festival e, não fossem os músicos, dificilmente seria um concerto. Se a Junta de Freguesia não tem meios de divulgação (ou competência para a fazer), então que se escuse de organizar eventos só para ficarem bonitos no anuário de actividades. Os "fregueses" (como se diz agora) precisam de ver boa música e os músicos precisam de público. É assim tão difícil juntar as duas necessidades e fazer uma coisa com um mínimo de dignidade? É triste mas, mesmo quando temos tudo para sermos felizes, tratamo-nos tão mal.
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