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domingo, 10 de março de 2024

Festival RTP da canção - A final. Afinal...

Ora vamos então às conclusões de mais um ano de Festival da Canção. Pouco para dizer mas tanto para fazer.


(Imagem RTP)
E pronto, lá se escolheu "uma canção para a Europa", como se dizia antigamente.

Olhando para a lista de canções que acabaram por chegar à final, a primeira coisa que salta à vista é que as pretensões de "inclusão" que a RTP tinha originalmente na escolha de compositores a convidar saíram um bocado furadas. Tirando a canção do Leo Middea, cantada em português do Brasil, pouco se viu da intenção de ter representadas na final as várias dimensões da população do país, intento que tinha sido bem mais conseguido em anos anteriores.

Tirando uma ou outra tentativa de fazer diferente (mais até em termos visuais do que musicais), as canções finalistas andaram muito pelo normalzinho do festival, representando muito pouco do que os jovens portugueses ouvem hoje em dia (tirando os casos das representantes da "moda das cantautoras"). Desta vez a dimensão kizomba/auto-tuning não esteve representada, apesar de sabermos que é o que mais se ouve por aí (basta andar de transportes públicos por Lisboa ou Porto, por exemplo).

No que respeita à qualidade das canções, na minha opinião as melhores ficaram nas semi-finais, como escrevi anteriormente (Mila Dores, Mela e Maria João) e, dentro do que o público podia escolher, acabou por ganhar a melhor cantora, o que já não é mau. Devo aliás dizer que, no que toca às vozes, os intérpretes a quem a semi-final não tinha corrido muito bem, em geral melhoraram na final. Pessoalmente, não consigo destacar uma canção finalista que, para mim, fosse melhor do que as outras. Claro que, quando falo das minhas preferências que ficaram pelo caminho, acabo sempre por ouvir a resposta de que também não eram canções para "se levar à Eurovisão" e que este "Grito" da Iolanda terá muito boas hipóteses de ficar bem classificado. Como sabem, nunca levo muito em conta esta coisa do "lá para fora" (Estamos juntos, MEC!), mas lembro-me sempre que ouvi o mesmo quando disse, na primeira semi-final de 2017, que a melhor canção era a do Salvador Sobral. Penso mesmo que a primeira resposta que me deram foi qualquer coisa do género: "Com aquela canção e aquela roupita de mendigo, não vai a lado nenhum". Não só foi, como voltou e se tornou um dos melhores cantores que tem hoje o país. Não estou muito interessado no lugar em que ficará a Iolanda na Eurovisão, mas ficam os votos de boa sorte.


Bom, despachado o concurso, vamos ao melhor da festa: as atuações ao vivo dos intervalos. É assim como o "halftime concert" dos americanos no "Superbowl", ou seja, o verdadeiro acontecimento da noite. Começou com a Mimicat a mostrar como a coisa fica quando ela tem uma banda a sério em palco e acabou com os The Black Mamba (com Anabela, Mimicat e Tó Cruz) como banda tributo dos Abba. Eh pá, eu não ligo nenhuma aos Abba mas os Mambas tocaram aquilo limpinho, limpinho, mostrando também eles que aquela coisa do solo de guitarra a fingir no "Love is on my side" era para esquecer. Mas o momento da noite foi proporcionado por Filipe Melo, Samuel Úria e convidados com Ana Lua Caiano, Alex D'Alva Teixeira, Luca Argel e Paulo de Carvalho nas vozes. Sim, foi mais um "medley" num intervalo do festival (há sempre um ou dois). Mas foi tudo e só o que uma atuação ao vivo deve ser (único senão: o uso da segunda versão de "Tanto Mar" de Chico Buarque em vez da primeira, mas isto sou eu, que tenho a mania dos pormenores). Esqueçam o medley. Isto é música a sério e é apenas uma exemplo das coisas boas que se fazem por cá e que raramente temos oportunidade de ver na televisão. Vá, se estivermos muito atentos, de vez em quando lá detetamos umas pérolas que nos passam pelas madrugadas. Estes momentos fazem-me sempre pensar: para quê tanto concurso de talento e festivais e galas de mais de três horas se temos tantos e tão bons músicos, bandas, orquestras que podemos mostrar às pessoas? E por falar em bons músicos e programas de televisão, por favor acabem com o "Estrelas ao sábado". Pode ser?

Para terminar, quero só dizer que, em relação ao Festival da Eurovisão, subscrevo o conteúdo da carta enviada à RTP por um grupo de artistas solicitando que a estação de televisão portuguesa exija à UER a exclusão da representação de Israel como sanção contra os crimes de guerra cometidos sobre a população palestiniana de Gaza, assim como se fez, e bem, à Rússia quando da invasão da Ucrânia e que, caso a UER não exclua Israel, que seja a própria RTP a recusar-se a participar no Festival. É certo que em Portugal o Festival da Eurovisão tem uma importância e visibilidade reduzidas, mas é um acontecimento importante na Europa e um palco com visibilidade, onde atitudes de protesto não violento podem e devem ser exercidas. E por aqui me fico quanto ao Festival RTP da Canção 2024.

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