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quinta-feira, 28 de março de 2024

"Cada vez se vendem menos discos". E no entanto...

Muitos de vocês sabem que evito comprar música naquela cadeia de lojas que acabou com as pequenas discotecas, que trata mal as pequenas editoras e que esconde o trabalho dos músicos individuais que lhes deixam o trabalho à consignação. Ultimamente tenho-me safado melhor. Eu explico.



Há, de facto, cada vez menos CDs à venda e mesmo as novas lojas de discos estão cheias de vinil, com uma pequena secção de CDs. Ainda não percebi muito bem a dimensão ecológica do regresso do vinil, derivado do petróleo, não tenho a certeza da pegada de carbono de um CD, mas sei que os meus ouvidos não suportam o som de "batata frita" gerado por meses ou anos de passagens da agulha nas estrias e que o tamanho dos CDs é bem mais fácil de arrumar numa estante, que o posso passar para uma pen-drive e ouvi-lo as vezes que quiser sem danificar o original, ou mesmo andar com ele no carro sem temer roubos ou intempéries. 
É verdade. Já ninguém compra CDs. Ou quase ninguém. A música está, na sua grande maioria, disponível em "streaming". Com uma pequena quota, temos tudo disponível online sem termos que comprar a música; para quem quer ficar com a música em formato digital, não faltam lojas online, algumas disponibilizadas pelos próprios artistas ou pelas produtoras que lhes gerem as carreiras e, para os "verdadeiros melómanos", temos o glorioso regresso do vinil. 


Nos últimos anos não tenho comprado tanta música como comprava, por razões várias, que não interessam agora para aqui, mas descobri que posso comprar a música diretamente aos músicos ou a quem lhes gere as carreiras, reduzindo assim a quantidade de intermediários e aumentando significativamente o que os artistas ganham em cada disco vendido. 

Sim, em certos casos sou obrigado a ouvir a música nas plataformas de streaming, que pagam uma miséria aos artistas por cada audição. Estou até a pensar começar a fazer crítica aqui no blogue a discos que ouço nessas plataformas. Posso não poder comprá-los, mas posso dar a conhecer a música de maneira a que outros a comprem aos artistas. Recebo alguns de oferta, de amigos, mas o que eu gosto mesmo é de escrever a um músico e dizer-lhe "Olá, quero comprar o teu disco!" De maneira mais direta ou menos direta, tenho aqui vários, alguns que já comentei, outros que esperam comentário. Hoje chegou mais um: uma obra fantástica do José Peixoto, que vai começar a tocar em casa e no carro e do qual vos falarei nos próximos tempos. 

Obrigado, José Peixoto, pela atenção e pela rapidez, mas principalmente pela boa música.

Capa:

José Peixoto, "Melancolias Incertas











"


Links:


domingo, 10 de março de 2024

Festival RTP da canção - A final. Afinal...

Ora vamos então às conclusões de mais um ano de Festival da Canção. Pouco para dizer mas tanto para fazer.


(Imagem RTP)
E pronto, lá se escolheu "uma canção para a Europa", como se dizia antigamente.

Olhando para a lista de canções que acabaram por chegar à final, a primeira coisa que salta à vista é que as pretensões de "inclusão" que a RTP tinha originalmente na escolha de compositores a convidar saíram um bocado furadas. Tirando a canção do Leo Middea, cantada em português do Brasil, pouco se viu da intenção de ter representadas na final as várias dimensões da população do país, intento que tinha sido bem mais conseguido em anos anteriores.

Tirando uma ou outra tentativa de fazer diferente (mais até em termos visuais do que musicais), as canções finalistas andaram muito pelo normalzinho do festival, representando muito pouco do que os jovens portugueses ouvem hoje em dia (tirando os casos das representantes da "moda das cantautoras"). Desta vez a dimensão kizomba/auto-tuning não esteve representada, apesar de sabermos que é o que mais se ouve por aí (basta andar de transportes públicos por Lisboa ou Porto, por exemplo).

No que respeita à qualidade das canções, na minha opinião as melhores ficaram nas semi-finais, como escrevi anteriormente (Mila Dores, Mela e Maria João) e, dentro do que o público podia escolher, acabou por ganhar a melhor cantora, o que já não é mau. Devo aliás dizer que, no que toca às vozes, os intérpretes a quem a semi-final não tinha corrido muito bem, em geral melhoraram na final. Pessoalmente, não consigo destacar uma canção finalista que, para mim, fosse melhor do que as outras. Claro que, quando falo das minhas preferências que ficaram pelo caminho, acabo sempre por ouvir a resposta de que também não eram canções para "se levar à Eurovisão" e que este "Grito" da Iolanda terá muito boas hipóteses de ficar bem classificado. Como sabem, nunca levo muito em conta esta coisa do "lá para fora" (Estamos juntos, MEC!), mas lembro-me sempre que ouvi o mesmo quando disse, na primeira semi-final de 2017, que a melhor canção era a do Salvador Sobral. Penso mesmo que a primeira resposta que me deram foi qualquer coisa do género: "Com aquela canção e aquela roupita de mendigo, não vai a lado nenhum". Não só foi, como voltou e se tornou um dos melhores cantores que tem hoje o país. Não estou muito interessado no lugar em que ficará a Iolanda na Eurovisão, mas ficam os votos de boa sorte.


Bom, despachado o concurso, vamos ao melhor da festa: as atuações ao vivo dos intervalos. É assim como o "halftime concert" dos americanos no "Superbowl", ou seja, o verdadeiro acontecimento da noite. Começou com a Mimicat a mostrar como a coisa fica quando ela tem uma banda a sério em palco e acabou com os The Black Mamba (com Anabela, Mimicat e Tó Cruz) como banda tributo dos Abba. Eh pá, eu não ligo nenhuma aos Abba mas os Mambas tocaram aquilo limpinho, limpinho, mostrando também eles que aquela coisa do solo de guitarra a fingir no "Love is on my side" era para esquecer. Mas o momento da noite foi proporcionado por Filipe Melo, Samuel Úria e convidados com Ana Lua Caiano, Alex D'Alva Teixeira, Luca Argel e Paulo de Carvalho nas vozes. Sim, foi mais um "medley" num intervalo do festival (há sempre um ou dois). Mas foi tudo e só o que uma atuação ao vivo deve ser (único senão: o uso da segunda versão de "Tanto Mar" de Chico Buarque em vez da primeira, mas isto sou eu, que tenho a mania dos pormenores). Esqueçam o medley. Isto é música a sério e é apenas uma exemplo das coisas boas que se fazem por cá e que raramente temos oportunidade de ver na televisão. Vá, se estivermos muito atentos, de vez em quando lá detetamos umas pérolas que nos passam pelas madrugadas. Estes momentos fazem-me sempre pensar: para quê tanto concurso de talento e festivais e galas de mais de três horas se temos tantos e tão bons músicos, bandas, orquestras que podemos mostrar às pessoas? E por falar em bons músicos e programas de televisão, por favor acabem com o "Estrelas ao sábado". Pode ser?

Para terminar, quero só dizer que, em relação ao Festival da Eurovisão, subscrevo o conteúdo da carta enviada à RTP por um grupo de artistas solicitando que a estação de televisão portuguesa exija à UER a exclusão da representação de Israel como sanção contra os crimes de guerra cometidos sobre a população palestiniana de Gaza, assim como se fez, e bem, à Rússia quando da invasão da Ucrânia e que, caso a UER não exclua Israel, que seja a própria RTP a recusar-se a participar no Festival. É certo que em Portugal o Festival da Eurovisão tem uma importância e visibilidade reduzidas, mas é um acontecimento importante na Europa e um palco com visibilidade, onde atitudes de protesto não violento podem e devem ser exercidas. E por aqui me fico quanto ao Festival RTP da Canção 2024.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Festival da canção RTP 2024 - Algumas considerações depois da segunda "semi-final"

Comentada a primeira semi-final, tenho obrigatoriamente que comentar a segunda, para a coisa ficar equilibrada. Depois da final também cá virei dizer do que achei.



Claro que não estava à espera que as críticas que fiz em relação à duração e condução da emissão da primeira semi-final tivessem algum efeito na segunda. Tudo está preparado há muito tempo e, no fundo, que interessa a minha opinião numa empresa como a RTP? Certo. Sigamos em frente.

Desta vez passou-se algo com o som. Quase todas as canções foram prejudicadas pelo som das vozes ou, pelo menos, da equalização da voz com a trilha gravada. Uns safaram-se melhor do que outros, como é habitual mas mesmo pessoas com vozes reconhecidas como boas (por exemplo o Buba Espinho) foram prejudicadas pelo fenómeno. A coisa foi melhorando um pouco pelo programa adiante mas nunca ficou perfeita.

O exagerado esforço da "inclusão"

Esta moda dos convites leva a estas coisas. Com tanto politicamente correto, acabamos com uma sessão que inclui coisas parecidas com muita coisa mas que, em muitos casos, acabam por nunca ser exatamente aquilo que supostamente queriam ser. É assim uma espécie de eterna fusão. Eu até gosto de fusões mas algumas aqui parecem um bocadinho "feitas por encomenda". No caso do Buba Espinho o tempero alentejano teve mão demasiado leve; a canção da Cristina Clara, apesar de interessante, ficou ali a meio entre a Beira Baixa e Cabo Verde; a canção do Huca, apesar de bem intencionada, pareceu-me entregue no sítio errado. Espero que a editem em single e faça o seu caminho normal como boa canção que é, uma vez que não foi apurada para a final. A Maria João é, evidentemente, de outro planeta. Quem gosta do projeto Ogre já conhece o género. Maria João canta como ninguém, João Farinha veste-lhe muito bem a voz com camadas de acústica e eletrónica, mas o Festival da Canção ainda tem que palmilhar umas léguas para ter lugar para ela. Ou então não, o Festival da canção vai continuar como é e nós vamos ter anualmente direito a ouvir pequenas pérolas destas que ficam pelas semi-finais, apesar da qualidade que têm. Depois temos o representante da imigração, o representante da emigração... tanto esforço para tentar incluir, que acaba por parecer tudo um pouco forçado.

No meio de tudo isto temos algumas canções que se integram em estilos mais atuais e mais ouvidos e acabam por ser essas as apuradas para a final. Entre essas, talvez tirasse a do Leo Middea (este estilo Djavan interessava-me moderadamente nos anos 80) e apurasse a da Maria João, só para termos uma final um bocadinho mais interessante. 

Num recado para a produção e para os autores, talvez fosse interessante regravar alguns dos acompanhamentos e ter algum cuidado especial com algumas das entregas vocais. Sei que é possível fazer alterações entre a semi-final e a final e tenho uma secreta esperança de que algumas das canções finalistas venham melhoradas, para bem do espetáculo.

Por fim, mais uma palavrinha sobre os convidados: na semana passada foram os 40 anos dos Delfins, esta semana foram os 50 anos de carreira do Herman... 
Nada contra, mas já repararam na quantidade de músicos de qualidade atuais que têm discos e até projetos novos? Assim como quem não quer a coisa, sugeria o Pedro Jóia, os Cara de Espelho, o José Peixoto, os Capitão Fausto ou o Zambujo com o Yamandu Costa e... por acaso já ouviram o disco da Milhanas? 'Tou só a dizer, ok?

Ah! E se puderem encurtar um bocadinho a coisa, o pessoal agradecia. Obrigado