Avesso como sou a "festivais de Verão" e vendo-me "obrigado" a comparecer este ano a um desses malafadados "certames" de convívio quase extra-musical, claro que, tendo a possibilidade de ver alguns concertos na tranquilidade do meu sofá sem ser espezinhado, encharcado com cervejola e incomodado pela gritaria de quem está a marcar lugar para um concerto e se borrifa para os anteriores não deixando ninguém ouvir coisa nenhuma, resolvi passar parte do meu fim-de-semana a ver os concertos do Rock in Rio, tanto os que me interessavam musicalmente como os que, por uma ou outra razão, me despertavam alguma curiosidade.
Assim sendo, aqui ficam algumas impressões que me foram ficando na ideia:
Sexta-feira:
Ivete Sangalo
Vi a parte final e em meia dúzia de minutos acabei por ficar cansado, não por sambar com a baiana mas de a ver aos saltos por ali fora. A música não me diz nada mas não há dúvida que o profissionalismo e a energia da senhora impressionam bastante. É verdade que o recinto estava cheio de brasileiros mas nota-se que há uma excelente relação entre Ivete e o público português e reconheço que um pouco de alegria faz sempre bem. Se por cá não há que chegue, pois que venha de fora.
Amy Winehouse
Pois se a Ivete é um exemplo de profissionalismo, esta menina é o exacto oposto da brasileira. Parece que alguns "artistas" se esquecem facilmente de quem lhes dá de comer. Não sou apologista da da submissão dos músicos aos gostos e caprichos do público mas parece-me que pelo menos respeito e um pouco de trabalho é o minimo que se pode exigir aos artistas quando se paga um balúrdio para os ver. Por mim e por enquanto estou vacinado quanto a esta senhora. Ela que venha e que volte mas, enquanto o "expectável" for "isto", não leva nem um cêntimo do meu bolso.
Lenny Kravitz
O senhor Kravitz não é de grandes "expansividades". Também ele um profissional, a música dele não me inspira por aí além, se bem que me agradem alguns dos "tiques setentistas" que ostenta aqui e ali. É verdade que o espaectáculo perde um pouco em emoção à conta da (talvez) timidez do senhor mas era capaz de jurar que, aqui e ali o bom do Lenny deixou que algum brilhozinho se escapasse por detrás dos óculos escuros. Será que vi bem?
Sábado:
Bon Jovi
Por razões da vida social (que isto dos blogues é só nos intervalos) só vi para aí metade do concerto do "Bom Jovem". A música está mais que vista, a atitude é a mesma, os músicos estão mais velhotes...
Sim, é verdade, a única coisa que me faz ver um concerto de Bon Jovi é... Richie Sambora. Com aquele ar de parolo a que nos habituou, o homem toca que se desunha e ainda consegue cantar melhor do que o "chefe". Tivesse ele mais "estilo"...
Trabalho bem feito mas pouco mais do que isso.
Domingo:
Docemania
Vi dois minutos e, horrorizado, mudei de canal.
Just Girls
Para banda de telenovela, até temos de dizer que as moças nem cantam assim tão mal. Mas aquelas músicas... não há pachorra. Enfim... desde que lhes paguem e elas trabalhem...
4Taste
Confirma-se: os meninos tocam pouco e cantam ainda menos. Não fosse a novela onde nasceram e ainda estariam numa qualquer garagem a fazer barulho e a ouvir ralhetes dos pais. Vê-los num festival só me faz pensar na injustiça que esta presença é para as bandas que andam na estrada há uma porrada de anos e se fartam de trabalhar. Ouvir aquele som "post-punk-teen-lavadinho" deu-me vontade de ver uma coisa mais a sério, daquelas que ainda se fazem por cá. Não desanimes, Ribas. ainda um dia alguém há-de pôr os Tara Perdida no lugar que merecem.
Xutos e Pontapés
Já há dois anos aqui tinha protestado o facto de os Xutos terem tocado antes dos "pseudo-Guns" quando na verdade tinham sido muito melhores. Eu sou assim, gosto de dizer coisas... mas francamente, o Xutos antes dos Tokio Hotel???
Sorte de quem lá foi que os rapazes não se impressionam com essas coisas e, mesmo tocando de dia, aproveitaram para pôr o Parque da Bela Vista em festa, fazendo com que os mais velhos se retirassem para jantar com um sorriso no olhar enquanto a camada pré-teen se entregava à adoração da depressão precoce. Haja Xutos por muitos anos que o pessoal precisa de dar uns pulos de vez em quando para abater a pancita.
Tokio Hotel
Começando por referir o facto de a "banda" (o agente, enfim) ter proibido a transmissão do concerto completo, coisa que não aconteceu com nenhum dos, de facto, grandes nomes que estiveram em Portugal este fim-de-semana, das duas uma: ou têm a mania que são qualquer coisa mais do que os outros, ou estavam a tentar esconder as evidentes insuficiências da jovem banda. Só para confirmar, andei hoje pelo "tubo" a ouvir as versões de estúdio e cheguei à mesma conclusão de ontem: o que se ouve ao vivo não é o que se ouve nos discos. Tenho até as minhas dúvidas quanto ao facto de serem eles a tocar muitas das partes instrumentais. Ao vivo a banda é pobre, tão pobre (ou mais ainda) como os 4Taste. O baixista não toca nada, o vocalista corta-se às notas altas, o guitarrista toca a direito e o baterista é o único que se aproveita, isto para não falar do imenso "nada" que as letras transmitem (essas devem ser mesmo feitas pelos meninos). Dito isto, o que é que isso interessa? Para o público que lá foi a intenção era vê-los em palco (isso: vê-los, não ouvi-los). Não é um fenómeno novo mas ainda não o consigo compreender, assim como o não entendi no tempo dos Beatles. Já nesse tempo a música interessava tão pouco ao público que a banda deixou de tocar ao vivo por não se conseguir ouvir a si própria em palco. Entrem os senhores psico-sociólogos, por favor.
Joss Stone
Do que vi, o melhor momento do fim-de-semana. Joss Stone deslumbrou e deslumbrou-se e não, não estou a falar da distribuição de flores no fim do concerto, pratica habitual nos concertos da inglesa. Grande voz, grandes músicos, grandes canções e grande entrega ao público, que acabou por corresponder muito mais do que eu estava à espera. Um grande concerto, o único em que tive pena de não ter estado.
Rod Stewart
De Rod Stewart não há muito a dizer. Há trinta e muitos anos que ouço dizer que o homem um dia perde a voz mas a verdade é que, aos 63 anos o escocês tem mais voz do que tinha aos 50 (não acreditam? Ouçam concertos antigos). De uma forma ou de outra, cante ele o que cantar entre as grandes malhas dos 70's, as foleiradas dos 80's e as versões mais recentes, o que fica dum concerto de Rod Stewart é um molho de sucessos, uma grande banda e uma enorme dose de boa disposição. Não há muitos assim depois dos sessenta (e dos poucos, alguns são amigos dele).
Depois desta pequena (pois, era para ser) crónica, apenas mais uma nota de mágoa para os critérios que regem a escolha das bandas para estes festivais, mais assentes em tabelas de popularidade e visibilidade mediática do que em qualidade estritamente musical... mas enfim, mesmo "Por um mundo melhor" a coisa é para dar lucro, pensavam o quê?
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