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domingo, 18 de março de 2007

Se calhar não gosto de "Bem-Jazz"




É verdade que nunca fui um grande conhecedor de Jazz. Nunca tive grande paciência nem me senti tão entusiasmado com a coisa como alguns dos meus amigos, até porque os "tiros" me saiam sempre ao lado. De cada vez que aparecia alguma coisa que de facto me agradava, a conversa acabava sempre por ser mais ou menos a mesma:

- Eh pá, estive a ouvir uma coisas de Jazz bem fixes.
- Ah sim? e o que era?
- Mahavishnu Orchestra (por exemplo).
- Eh pá! Isso é fixe, mas não é bem Jazz...

E isto foi-me acontecendo pela vida fora, à medida que eu ia descobrindo "coisas de Jazz" que me agradavam. Aconteceu com a fase mais "Jazz" do Zappa (com o Ponty e o George Duke), aconteceu com o próprio Jean-Luc Ponty, com os Area, com o David Grisman, com o Mário Laginha mais recente e por aí fora. Nada era "Bem-Jazz", apesar de os músicos serem, à partida, músicos de Jazz e a música ter bastante a ver com o estilo. Sim, mas não era "bem Jazz".

Com o tempo fui descobrindo, por exclusão de partes, o que era "bem Jazz": umas bandas com um chefe que lhes dava o nome, mais o elemento de "agregação quantificante", consoante o número de elementos que tocavam na ocasião (quarteto, quinteto, sexteto, etc, até chegar ao número em que eles não sabiam qual a palavra a utilizar, altura em que a coisa se passava a chamar "Orchestra" ou "Big Band").

A coisa funcionava sempre da mesma maneira: tocava-se a música com muito juizinho, depois o chefe solava e ia dando licença aos meninos para fazerem os seus solos, desde que no fim voltassem ao tema original (tipo, "vai lá brincar à vontade mas quero-te aqui sossegadinho dentro de cinco minutos, senão na próxima vez já não te trago a passear"). É verdade que os solos não eram sempre iguais mas a estrutura era tão rígida que aquilo me soava tudo muito parecido e eu não tinha paciência.

Fui então obrigado a concluír que, na verdade, eu se calhar não gostava assim muito de "Bem-Jazz".
Como amostra, deixo aqui a tocar uma música da Mahavishnu Orchestra (lá está o "Orchestra" e tudo), banda de que ainda hoje gosto muito e que fazia parte daquilo que não era "bem-Jazz" (mas que aparece em tudo o que é bibliografia e site de... Jazz) e onde tocavam o John McLaughlin e o Billy Cobham, ainda hoje em actividade e considerados dois dos grandes músicos de sempre do... Jazz!

Vá-se lá entender estes "puristas"!

"Open Country Joy"
Artista: Mahavisnhu Orchestra
Álbum: Birds of Fire



5 comentários:

Anónimo disse...

Grande álbum, Mug!

Mas em relação á tua questão - se Wagner são 2h de seca para apreciar 2m de glória, o 'bem-jazz' são décadas e décadas de mto boa música, emoção, envolvimento, expressão, experimentalismo, dead-ends, cerebralidade, conversa-da-treta, snobismno, e finalmente, a única música que 'parece bem' a quem no fundo só quer de volta aquele momento único em que foi feliz - aparentemente - sem compromisso.

Anónimo disse...

Tu, ao menos, sabes do que gostas!

Raro, nos dias de hoje.

Anónimo disse...

Por vontade dessas pessoas que gostam de tudo em gavetinhas muito bem arrumadas, parecem existir "muros de berlim" por todo lado. Mesmo dentro do tal "Bem-Jazz", há os que dizem que o Swing já morreu, o Bop tem a campa cheia de musgo, o Funk Jazz já deu o que tinha a dar, e... mesmo aquela corrente agora muito activa, a do neo-Free, esquecem-se que o Free já tem mais de 50 anos sobre o seu aparecimento...
Digo eu: e depois? se normalmente costumo ouvir o Grand Wazoo do Francis Vicent Zappa, depois se calhar um tema do Jimmy Smith, horas mais tarde o Rhapsody in Blue do Gershwin, mais ao fim da tarde toco uma hora ou duas, estudo mais um ou outro tema que ainda não agarrei convenientemente, saio de casa para ensaiar o Saint James Infermary e o I Got My Mojo Workin' c/ a Minnemann Blues Band, e enquanto vou de carro ouço John Zorn, ou Ella Fitzgerald, ou en Webster, e à noite antes de deitar ponho Brian Eno, Jethro Tull, Steve Reich, ou Art Tatum, provavelmente eu não sou nem bem nem mal Jazz, antes pelo contrário?
Ah! e ao acordar, talvez King Crimson, Don Cherry... ou Astor Piazzola?... acho que vou fazer penitência, porque um músico de Jazz não se comporta assim... qualquer dia expulsam-me da "irmandade"...
Mug, marimba-te (ou xilofona-te) para os fundamentalistas, aquilo passa-lhes com a idade (ou então não...)

Um abraço
Rui Azul

Anónimo disse...

Bom "post", amigo. Subscrevo inteiramente. Eu acho que o "Bem-Jazz" não existe, é uma espécie de utopia de quem gostava de gostar de gostos que mais ninguem gostasse (passo a aliteração).

muguele disse...

Olha o Belche!

Onde é que tens andado?

Férias daquelas maiores que as dos outros ou algum assobiador colorido?