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domingo, 25 de abril de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #003

Banda do Casaco - Enterro do tostão


Continuando a divulgação do que se fazia em Portugal antes da edição de "Ar de Rock" do Rui Veloso e, consequentemente do chamado "boom" do rock em Portugal, apresento-vos hoje a Banda do Casaco. Para quem não conhecia, ao ouvir a música do vídeo é capaz de surgir a pergunta: "Rock???". Sim, rock. Por alturas da segunda metade dos anos setenta, há muito que o rock tinha deixado o "and roll" pelo caminho e se tinha começado a fundir com todas as outras músicas. Havia o chamado rock clássico, o rock progressivo, o Jazz-rock, o Funk-rock, o Country-rock, o Folk-rock e mais uns quantos "roques". O da Banda do Casaco poderá ser considerado uma espécie de trad-jazz-rock ou outra coisa qualquer, não importa muito, mas que tem rock, isso tem, embora também não importe muito.

A Banda do Casaco nasceu em 1973 do fim da Filarmónica Fraude de António Pinho e Luís Linhares, a quem se juntaram Nuno Rodrigues (Musica Novarum) e Celso de Carvalho (Plexus). Este foi o núcleo inicial mas, ao longo da sua existência, entre membros e colaboradores, passaram pela banda mais de 35 elementos, dos quais destaco músicos como Armindo Neves, Carlos Barretto, Carlos Zíngaro, Jerry Marotta (baterista que tocou, entre outros, com Peter Gabriel), José Campos e Sousa, José "Moz" Carrapa, José Eduardo, Mike Sergeant, Ramón Galarza, Rão Kyao, Tó Pinheiro da Silva, Vitor Mamede, Zé Nabo e vocalistas como Né Ladeiras, Concha, Gabriela Schaaf e Cândida Soares, que ficou conhecida para a posteridade como Cândida Branca-Flor, exatamente devido a uma canção da Banda do Casaco, "Romance de Branca-Flor".

A canção do vídeo de hoje pertence ao álbum "Contos da Barbearia" (1978), nada mais nada menos do que o quarto (sim, 4º) de originais da Banda do Casaco. Para um país onde "ninguém editava nada" não está nada mal, digo eu. Pois a Banda editava, por essa altura, à razão de um LP (álbum) por ano. Em contos da Barbearia participam os seguintes músicos:

Banda:
Nuno Rodrigues (ex - Musica Novarum) – voz, guitarra, flauta
Mena Amaro – voz
Celso de Carvalho (ex - Plexus) – violoncelo, cítara
António Pinho (ex - Filarmónica Fraude) – voz
António Pinheiro da Silva (ex - Perspectiva) – guitarra, flauta

Colaborações:
Armindo Neves (Orquestra Girassol, Quarteto 1111) – guitarra
José Eduardo (Orquestra Girassol) – guitarra baixo, contrabaixo
Carlos Zíngaro (Plexus) – violino
Rui Reis (Play Boys, Plutónicos, Petrus Castrus, Quarteto 1111) – teclas
Vitor Mamede (Sindicato, Quarteto 1111) – bateria
José Barrocas – flauta
Adácio Pestana – trompa
António Reis Gomes – trompete
Rita Rodrigues – voz



Cá está. Para quem já conhecia é certamente uma boa recordação. Para quem não conhecia talvez seja uma surpresa. Já sabem: comentários, correções, achegas e outras coisas a dizer, carreguem aqui em baixo e digam de vossa justiça.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #002

No seguimento da última entrada, em que divulguei um single de "rock progressivo", da autoria de José Cid, por alturas de 1977, lembrei-me de começar a compilar informação sobre este tema do rock português antes do rock, ou seja, do rock que se fazia em Portugal antes de alguém se lembrar de declarar o "Ar de Rock" (1980) do Rui Veloso como o princípio do rock português e, por conseguinte, o Rui como "pai do rock nacional". Pois, nada mais errado. Poderá, sim, dizer-se que o sucesso deste disco potenciou um investimento por parte das editoras que, até aí, não existia, mas o rock, esse existia em força no país, pelo menos desde 1960 (diz-se que o primeiro "conjunto" surgiu em 1955), ou seja, há pelo menos 20 anos de história do rock em Portugal anterior ao que ficou conhecido como o "boom do rock português" dos anos 80. Nos últimos dias tenho vindo a registar dezenas de "conjuntos", "grupos" e "bandas" (consoante a designação usada ao longo do tempo), uns que já conhecia outros que não, e que fazem parte de uma autêntica "árvore genealógica" de músicos que, em diversos cruzamentos de formações, dão origem e fim a um sem-número de coletivos. Tentar perceber quem tocou onde, quem entrou e saíu daqui ou dali é um exercício que parece não ter fim, mas que me dá um prazer tremendo. Sei que há quem já tenha feito este trabalho, mas agrada-me a surpresa das descobertas que vou fazendo, por isso vou tentar alimentar esta nova rúbrica regularmente aqui no blogue (se é que alguém ainda lê isto, eh eh).

A proposta de hoje faz parte dessa cadeia de bandas que deram origem a outras bandas. O Conjunto Académico Os Espaciais (depois apenas Os Espaciais) é o primeiro pouso conhecido do guitarrista e vocalista Tony Moura, que mais tarde fundou os Psico e pontificou ainda como músico convidado nos Tantra, onde assegurava uma boa parte das guitarras e vozes ao vivo, deixando ao Manuel Cardoso (mais tarde Frodo) a liberdade para se entregar á faina teatral que caracterizava os concertos do grupo. Ora, os Psico foram ponto de convergência de músicos vindos, para além dos Espaciais, de bandas como Pentágono, Chinchilas ou Grupo 5. Das cinzas dos Psico nascem os Arte & Ofício que por sua vez deram origem aos Roxigénio e aos Trabalhadores do Comércio. Pelo caminho aparece gente como António Pinho Vargas, André Sarbib ou Filipe Mendes (Phil Mendrix). Um autêntico novelo para desemaranhar.

 Esta gravação é de 1967 e trata-se de uma versão de "Taps", mais conhecida como "Toque do Silêncio". É assim mais ou menos como os irmãos mais novos dos Shadows a tocar num funeral, mas tudo tem que começar por algum lado e estava-se em Portugal nos anos 60, com todas as dificuldades que calculamos que os músicos enfrentariam, até para comprar uma guitarra elétrica que não desafinasse a meio da primeira canção. Uns heróis, estes pioneiros.