Esta semana tenho-me visto confrontado várias vezes ao dia com vídeos, notícias e solenes proclamações de qualidade poética da nova canção dos Deolinda, "Que parva que eu sou", como sendo a grande canção de protesto dos últimos anos e, quiçá, dos próximos. Ultimamente é assim. Ou é tudo muito mau ou é tudo o melhor de sempre.
No caso de que falo (e sim, também eu acabei por falar nele) o que se me apresenta não é mais do que um fenómeno de arrasto. Considerando que muito do público dos Deolinda é composto por universitários ou recém-licenciados (todos bem fornecidos de telemóveis "hi-tec"), é natural que a canção tenha tocado num ponto sensível, ao ponto de vídeo e respectiva letra terem ido parar ao Facebook. Sabendo nós que a "investigação" jornalística destes tempos se faz nos blogues, twitters e Faces desta vida, não se estranha que imediatamente tenha ido parar a jornais, rádios e televisões, com o consequente espalhafato mediático.
Não é que a canção não seja boa. A canção é uma boa canção (desde que não massacrem) mas nem sequer é a melhor canção política que os Deolinda fizeram até hoje. O Movimento Perpétuo Associativo é muito melhor em termos musicais e muito mais mordaz na ironia que carrega... mas não foi lançado no Facebook.
Concluindo...
Meus amigos. O mundo não tem de ser oito ou oitenta. Há muito espaço no meio. Os Deolinda são bons. O público gosta, a comunicação fala do que o povo gosta, o povo gosta do que vê na televisão... a pescadinha do costume. Tudo corre bem para a banda, ainda bem, é também por isso que se escreve por aqui, pode ser que se espalhe a outras.
Dizia eu, os Deolinda são bons mas... querer equiparar "Que parva que eu sou" a "Os Vampiros" de José Afonso é, no mínimo, um exagero. Acho eu, que tenho a mania de achar coisas...
4 comentários:
Estás a ser um velho do Restelo da tua época! Muitos vindouros não dirão o mesmo em relação à música dos Deolinda, garanto-te! Falamos daqui a 20/30 anos!
Eu assino por baixo no que escreveu o Mug... a notícia do Telejornal de ontem estava a correr bem (em termos de me despertar a curiosidade para ir espreitar que novidade era aquela acerca de um grupo que aprecio) até ao momento em que vejo que a produção resolveu meter imagens do Zeca para reforçar o ênfase dado à questão... a comparação pareceu-me um nadinha forçada - mas nada que os media dos dias de hoje (que já nem me atrevo a escrever "jornalistas") já não nos venham habituando há algum tempo.
...e desta vez nem se podem desculpar dizendo que a notícia foi criada por falta de outros tópicos mais relevantes.
Um abraço,
Emigras
Não é a primeira vez que me chamam velho do Restelo. Mas na verdade estão enganados. Eu cá sou dos Olivais, eh eh.
Acho o post muito oportuno e concordo com o que escreves. Por aqui na faculdade até correu um mail com a coisa. A música é interessante, mas a letra até deixa um pouco a desejar, sendo por vezes básica e naïf na construção dos versos. Por isso, nem sequer vale a pena falar dos Vampiros. Agora, em termos mais terra a terra, é um tema que agarra o sentir da geração que descreve e bastante oportuno, sem dúvida. Caracteriza até com ironia a geração dos que lhes estão próximos, como não podia deixar de ser. Qualquer outro mais velho que o fizesse, seria sempre visto de forma paternalista e pouco consequente.
Relativo ao tema que aborda, parece que a população està sempre à espera que alguém venha dizer o que parece óbvio e rapidamente apropria-se das músicas como bandeiras de protesto (já faz lembrar o Sr. Engenheiro dos Xutos). O problema é que a realidade é bem mais deprimente que o retrato. É que não deixa de ser curioso que o cidadão comum (mesmo o injustiçado) tenha gestos no dia a dia que enfermam exactamente dos mesmos problemas e vícios dos que são alvos das críticas. É lixado, isto!
Um abraço
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