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quarta-feira, 11 de abril de 2007

Ainda (e sempre) a música em Portugal

Como muitos sabem, o Zé Pedro (dos Xutos) tem uma rúbrica de cerca de 5 minutos por dia na rádio Radar chamada "Zé Pedro Rock and Roll".
Ora esta semana, depois de ouvir o chefe da editora para onde os Xutos gravam, o Tó-Zé Brito (sempre ele), dizer que já não se vendem Cds em Portugal, saltou mesmo a tampa ao bacano do Zé Pedro e o homem resolveu usar o programa para desancar em todos os factores que fazem com que a música em Portugal esteja no estado em que está. Segunda-feira levaram as editoras, ontem levaram as rádios e a televisão (pricipalmente as primeiras) e hoje os criticos de música (ainda faltam dois programas).

A propósito disto abriu-se uma discussão no blog da rádio.

Transcrevo para aqui um (se quiserem ler os outros sigam aí o link) dos comentários que lá deixei, não só porque é a minha opinião mas porque gostava de ler o que os visitantes que aqui vêm pensam sobre o assunto (sim, eu sei que é difícil mas um ou dois, pelo menos...).

Pois então, cá vai:

«Hoje foi a primeira vez que ouvi quatro canções portuguesas seguidas na Radar, fora de alguma das rúbricas habituais aqui na rádio. Esta conversa, gerada pelas palavras do Zé Pedro não é, de certeza, alheia a isso.

É possivel que não haja música portuguesa, de momento, na área em que se move a Radar que permita o cumprimento da lei (não sei, não conheço tudo o que se faz nem percebi ainda muito bem em que área se move a Radar). O Problema é que a questão de fundo nem sequer é o cumprimento da lei. Há aqui vários factores que interessa referir:

- Existe, de facto, um preconceito de fundo contra o que é português e já o lemos em comentários a este post.

- Exige-se muito mais aos músicos portugueses, em termos de qualidade, do que aos estrangeiros. Se aparecesse aí uma portuguesa a cantar tão mal como a Nico, que não fizesse música própria nem tivesse qualidade nenhuma a não ser um opinion-maker por trás e um músico conhecido a fazer-lhe as músicas, o que é que acontecia (Eh pá! Acabei de contar a história da Manuela Moura Guedes em que o Miguel Esteves Cardoso fez de Andy Warhol e o Ricardo Camacho fez de Lou Reed)? Pois é, artisticamente, nada!

- A alegada má qualidade que normalmente se atribui à música portuguesa, muitas vezes está, não na música em si mas nas gravações e é culpa dos produtores (quando eles existem).

- A música estrangeira quando chega às rádio portuguesas já vem com a triagem feita (basta ir ao site do NME e comparar com o que passa aqui na Radar,por exemplo), enquanto em Portugal esse trabalho teria de ser feito pelas rádios, já que não existe imprensa musical em condições para o fazer e as editoras nem se dão ao trabalho de divulgar o que publicam.

- É verdade que também há muito músico em Portugal que acha que ser "alternativo" é não se promover e que depois se queixa de falta de oportunidades. Sim, também há responsabilidades dos próprios músicos.

- Porque é que há tanta gente em Portugal a cantar em Inglês? Porque nem todos podem ser poetas e as letras em inglês permitem um menor grau de exigência dos críticos nacionais, sempre prontos a cascar no que puderem.

- A que é que leva o ponto anterior? Letras ainda piores em Inglês do que seriam em português por falta de vocabulário nessa língua, já para não falar nas pronúcias e dicções ridiculas que a falta do domínio da lingua estrangeira acaba por gerar.

- Há uma certa franja de músicos já estabelecidos no mercado que, muitas vezes, protesta contra o que se passa na música em Portugal mas que depois não faz tudo o que pode para apoiar quem está a começar e promete qualidade. Que tal propor bandas para abertura de concerto (com condições dignas) como parte integrante dos contratos, ainda que em troca de um pequeno abatimento no preço por espectáculo?

Estes são alguns dos factos que me saltam à ideia. Alguém tem mais (sem ser dizer mal dos Delfins)?
»

8 comentários:

Anónimo disse...

bem, e hoje ouvi GNR na radar - pela 1ª vez - terá sido a propósito dessa troca de ideias?
há tanto na mundo da musica portuguesa por explorar e descobrir... é só querer..

Anónimo disse...

É difícil para mim dizer mais que o que também disse no blog da Radar, até porque não me sinto suficientemente informado e com autoridade sobre a matéria. A questão do preconceito é óbvia e por outro lado a simples repetição de fórmulas musicais cujas raízes estão no pop/rock internacional é pouco favorável aos nossos músicos (é o problema do "mais do mesmo"). Mesmo assim, a atitude é sempre de reserva e desconfiança (quando não mesmo de incompreensão) quando alguém aparece e faz algo de verdadeiramente novo. O resultado é o desaparecimento prematuro, ou mesmo o esquecimento mais negro que seja possível e imaginário. Apesar de tudo, sei que há melhores coisas em Portugal que o que se diz ou quer fazer crer.

Há cerca de 6 meses tive uma discussão no blog da Radar que abordou em parte este assunto e que me levou a iniciar um contacto com o meu interlocutor por mail. Uma parte da primeira mensagem que lhe escrevi, transcrevo-a aqui:

"Vamos então ao assunto pop/rock português: ao contrário do que lhe possa parecer, não creio que a maioria dos grupos que mais recentemente começaram a cantar em inglês o tenham feito com uma perspectiva de internacionalização em vista. Fizeram-no por várias razões, algumas boas, a maioria más! De entre as más conta-se a dificuldade (ou clara incapacidade ou mesmo preguiça) em conseguir dizer algo de significativo em Português, acreditando que, em inglês, a "coisa" passe... despercebida! Depois houve um certo período eufórico em meados de 90 em que um conjunto de bandas começaram a assimilar bem um certo estilo pop/rock internacional (por assim dizer; no fundo cresceram a ouvir as suas bandas de referência) e com bons resultados no mercado nacional. Nós, como bons esquizofrénicos depressivo-optimistas que somos, assumimos a segunda destas qualidades e toca de enfiar na cabeça dos rapazinhos e rapariguinhas que formaram estas bandas e começámos a fazê-los acreditar que poderíam ir mais longe (os The Gift é um caso exemplar), esquecendo que para isso, teria de haver toda uma máquina montada por trás a apoiar e um investimento que nunca ninguém assumiu a sério. Este assunto já foi mais que escalpinhado em várias circunstâncias. Eu diria que nos dias de hoje, não existe grande excitação no panorama pop/rock português, acima de tudo porque as editoras tradicionais, nas mãos das grandes multinacionais a braços com uma crise sem precedentes, acabam por ter pouca margem de manobra e elas próprias arriscam pouco na gravação de novas bandas. O mercado ter a dimensão que tem também não ajuda, e está a colocar alguns músicos numa espécie de beco sem saída, para não falar nos ilustres desconhecidos. As pequenas editoras vivem em dificuldades com o mercado dos CDs a definhar a cada ano que passa. O problema não passa somente pela gravação/edição, há também a promoção, distribuição, etc... Creio que depois desta crise estaremos prontos para aquela que afirmo possa ser a 4ª revolução do rock português: go internet! E nesta matéria existem alguns raros exemplos de desbravar além-fronteiras, mas em áreas específicas, claramente underground, e até em grande parte desconhecidas aqui. O problema de procurar e divulgar bem também existe aqui com o nossa própria música (mesmo na Radar)."

Espero que seja uma contribuição útil.

Um abraço

Anónimo disse...

Temos de entender a opção de cantar em português ou inglês. Sendo o rock/pop uma corrente musical de inspiração marcadamente anglo-saxónica, é natural que os ouvidos dos compositores estejam cheios de sonoridade em inglês e isso, de certa forma, explica a opção. Nos casos em que essa inspiração não é tão nítida, nomeadamente quando a influência é de cariz popular/portuguesa/francesa/chinesa (?), então vemos quase sempre a opção pelo português.

O facto de nalguns casos se cantar em inglês das barracas não é forçosamente mau, pela simples razão de que a música não tem de transmitir uma mensagem falada, podendo a voz funcionar como mero instrumento que dá a linha melódica principal. Alguns até inventam línguas novas, como é o caso dos blasted mechanism (banda que parece uma mistura de zappa com a igreja maná).

No fundo, o Português também é uma corruptela do Latim, portanto sejamos mais tolerantes. Ou então não sejamos, pronto.

muguele disse...

Eu entendo a opção pelo inglês, seja por referência, opção estética, ambições de internacionalização ou até por instinto de defesa (como disse, temos a mania que todas as letras em português têm de ser grandes poemas).
Já a opção "inglês das barracas" não entendo tão bem. Primeiro porque acho que para fazer faz-se bem feito, depois porque, se me agrada o uso da voz como instrumento, prefiro que se invente os sons (ou pelo menos que eu não perceba...).

Quanto à corruptela do Latim, se o Bento XVI (sim, se tivesse jogado no Benfica tinha tido 15 guarda-redes do Barreiro com farto bigode a tapar-lhe o lugar) quer voltar ao latim, estamos na vanguarda da resistência.

O problema da internacionalização.
No geral, o que se passa é que a maioria dos músicos portugueses que têm sucesso no estrangeiro curiosamente cantam em português (Mariza, Madredeus, Ala dos Namorados, Dulce Pontes...o pessoal da "Worl Music") e os que cantam em inglês têm tendência para se safarem bem em países... não anglo-saxónicos (Wraygunn em França, Moonspell na Alemanha, Blasted em Itália...).
Não me parece que se possa começar por aí, ou seja, se as bandas portuguesas não passam na rádio em Portugal, por que raio de carga de água é que os outros países pegariam nelas?

Já agora, se não passam na rádio, não vendem (na televisão é outra conversa, desde que seja na telenovela certa). Se não vendem, as editoras não apostam, se as editoras não apostam, faz-se em casa. Faz-se em casa, fica mal feito. Fica mal feito, é mau. É mau, pois claro, é português. É português, pois claro, é mau. É português e mau, não passa na rádio. Não passa na rádio, não vende... (ah, já vou na segunda volta).

Anónimo disse...

Certo, eu percebo tudo isso. Mas não estaremos a embarcar na tendência (péssima, a meu ver) da arte musical como uma cultura de massas? Porque é que de repente nós, apreciadores de música, ficamos tão empertigados por esta falência das editoras, das televisões, das rádios. Que se lixe.

Quando é que a música se tornou esta arte de consumo permanente? sempre a dar música, na rádio, nas lojas, nos restaurantes, no futebol.

Nas outras artes (artes, o que é isso afinal?) continua a haver um certo elitismo salutar. Elitismo no bom sentido da palavra: a vontade de alguns de se dirigir a uma exposição, de se dirigir a um teatro, de comprar um livro. Essas manifestações artísticas não nos entram pela casa ou pelo carro dentro, como no caso da música. A música é um fartote, é uma indústria, é um ruído permanente de fundo.

Confesso que, embora partilhando as opiniões recorrentes deste blogue, estou-me um pouco nas tintas para a divulgação e para a paridade. Quem gosta de música, procura-a. Quem gosta mesmo muito, não só deve ouvi-la como deve tocá-la. Na internet há música aos milhares, os instrumentos são mais baratos hoje do que eram quando eu era puto (há um ou dois anos, portanto), há cifras por todo o lado, pautas à descrição, há Cubases, Cakewalks, etc.

Ei, vamos também comentar as músicas propriamente ditas (aquele baixo, aquele coro, aquela guitarrinha inaudível). A melhor homenagem que podemos fazer aos músicos não é querermos que sejam consumidos por milhares (isso é, quando muito, bom para a qualidade de vida deles). A melhor homenagem que lhes podemos fazer é comentar-lhes as ideias, fazê-los notar que lhes percebemos as intenções, as estéticas, as palavras, tanta coisa.

muguele disse...

O problema é que eu (e a maior parte das pessoas) não tenho uma "cultura de massas" cá em casa, por isso as massas não chegam para comprar a música que quero, nem os instrumentos, nem os computadores. Além disso, como tenho que estar a ganhar massas a maior parte do dia, não me fica tempo suficiente para andar na net à procura da boa música, nem vontade de a tocar (ainda se tocasse alguma coisa de jeito...).

"Cultura de massas"... isso é que era!

Não é que não concorde com o comentar a própria música, mas tenho de admitir uma certa dificuldade em saber o que por aí há de bom, de tão viciada que está a divulgação.

Isto já para não falar dos músicos que acabam por desistir porque têm (lá está) de ir angariar massas pá vidinha, deixando por fazer o que de melhor ainda poderia estar para vir. Ninguém faz a obra da sua vida à primeira, gravando-a para um computador, assim sem mais nem menos. Sendo assim, os músicos do futuro (ou do presente?), além dos cursos de música, ainda têm de ter pós-graduação em sonoplastia, informática, marketing, gestão de empresas e direito, para além de talento (se sobrar espaço, claro).

Anónimo disse...

Tá bem, rapaz, manda lá o NIB, que a malta faz um donativo. Atendendo à utilidade pública deste blogue, pode ser que ainda seja dedutível no IRS!

muguele disse...

Deixa lá isso.
Eu queria mesmo era uma "cultura de massas", mas acabei de descobrir que já não me posso candidatar aos subsídios de Jovem Agricultor (só até aos 40, onde é que isto já se viu?).

Já dizia o outro:
"Too old to Rock 'n' Roll, Too Young to die, Just right to be a Young Farmer".