Agenda de concertos (carregar no evento para mais informação)

sábado, 26 de junho de 2021

Portugal: o Rock antes do Rock #007

Tantra: À Beira do Fim.

Sobre os Tantra e sobre o percurso de Manuel Cardoso na música em Portugal, podia escrever-se um livro daqueles gordos, tal a riqueza e diversidade do que tem produzido até hoje, sem sinais de que irá parar tão cedo. No entanto, no que respeita à escrita de blogues, todos sabemos que há limites para o que se consegue que as pessoas leiam. É tudo uma questão de formatos.

No meu caso, conheci a música dos Tantra antes de os ouvir pela primeira vez, porque tinha um amigo nos escuteiros que, durante um acampamento de verão de uma semana, cantava este "À Beira do Fim" em altos berros, várias vezes ao dia. Terminado o verão, comecei por ver os Tantra num programa de televisão em que também conheci outras bandas, como os Psico ou os Perspectiva, soube da eminente edição do novo álbum "Holocausto" nas páginas da revista "Música & Som" ou no jornal "Se7e" (não me lembro bem qual) e acabei num Coliseu cheio para o concerto de apresentação do novo álbum. Para mim, que não tinha visto os Genesis em Cascais em 1975, por falta de idade, aquele género de concerto ao vivo era todo um mundo novo, uma espécie de peça de teatro com músicos ao vivo e tudo em grande: o som, as luzes, até a bateria do Tó-Zé Almeida (que mais tarde veria nos Heróis do Mar com uma bateria mínima, sinais dos tempos). As máscaras do Manuel Cardoso eram fabulosas. Ele aparecia e desaparecia, umas vezes tocava, outras não, mas as guitarras sempre asseguradas com mestria pelo Tony Moura, que eu já tinha visto nos Psico. 



O Tantra eram, na altura do álbum "Mistérios e Maravilhas", onde está a versão de estúdio do "À Beira do Fim", o Manuel Cardoso (ainda antes da fase Frodo): Guitarras e vozes; Américo Luís: baixo; Armando Gama (sim, o da "Balada que te dou"): teclados e Tó-Zé Almeida, bateria e percussão. Quando os vi no Coliseu, para além da inclusão do Tony Moura na guitarra e vozes, o Armando Gama tinha sido substituído pelo Pedro Mestre e este pelo Pedro Luís (sim, o dos Da Vinci).

Estava eu então no princípio das minhas idas a concertos e aprendi cedo que os de bandas portuguesas também valiam a pena. Tempos depois vi, no mesmo Coliseu, o meu primeiro concerto da Go Graal Blues Band, mas isso é assunto para uma publicação mais à frente.

Para além do vídeo acima em que podem ver como era o "À Beira do Fim" ao vivo (junto com uma versão, penso que em sala de ensaio de "Ji" do álbum "Holocausto", deixo-vos aqui em baixo a versão completa, que tem cerca de 11 minutos, mas é uma viagem ao que se fazia, já em 1977, no prog-rock em Portugal.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Bluegrass em Portugal, com André Dal

O André toca banjo há cerca de 20 anos. Eu conheço o André há oito, por via das "jam sessions" (sessões de improviso) que organiza com o objetivo de divulgar o género musical e de tocar com outras pessoas, para lá dos elementos da sua banda, Stonebones & Bad Spaghetti (SB&BS), provavelmente a única banda Bluegrass em Portugal. É certo que têm havido algumas incursões no género desde o fim dos anos setenta e inícios de oitenta, protagonizadas por músicos como Jorge Palma, Mário Ribeiro, King Fishers Band ou, mais recentemente, Anaquim, mas sempre de passagem, nunca assumido como o género principal dos grupos ou artistas. Bandas assumidas de Bluegrass em Portugal, só conheço os SB&BS.

Pois então, se o André tem uma banda de Bluegrass em Portugal, porquê um disco a solo? Bom, porque o André anda há 20 anos a percorrer as jam sessions dos vários festivais Bluegrass que se realizam na Europa e nos Estados Unidos e tem colecionado amigos por esse mundo fora, que o têm apoiado e encorajado a continuar a fazer coisas dentro do Bluegrass, todos muito bons músicos e com quem o André tem muito prazer em tocar. Por essas razões e por se ter visto confrontado com uma condição física que tem vindo a prejudicar o seu domínio do banjo, decidiu o André editar a solo um disco instrumental de standards bluegrass e temas seus, tocado por ele e por todos os seus amigos espalhados pelo mundo.

Ora, apesar de o Bluegrass ser um género musical que assenta muito na interação entre os músicos durante a execução, um pouco como no Jazz, a tarefa de gravar toda aquela gente junta em estúdio apresentou-se como impossível em termos logísticos, considerando a falta de meios financeiros com que o projeto se confrontava. Optou-se pela solução de cada um dos músicos gravar a sua parte e enviar para uma mistura final. Quando ouvi esta explicação, torci o nariz e pensei: "Bluegrass à distância? Humm...", até que me chegaram os primeiros sons do single "Beyond The Tagus River" (se ainda não repararam, quer dizer Alentejo). E não é que, não só a interação entre instrumentos resulta, como ainda por cima a mistura está muito bem feita? Não vou dizer que tudo encaixa como se fosse gravado "as pickers do", mas o resultado final está muito bom. 

Apresento-vos assim "Beyond The Tagus River" o primeiro álbum de Bluegrass instrumental de um músico de Bluegrass português, tocado por músicos de todo o mundo, incluindo Portugal. A música é muito boa, o trabalho está bem feito e só falta ser ouvido por toda a gente. Tem passado em várias rádios online pelo mundo fora e agora falta ser ouvido nas rádios nacionais, coisa que, sabemos todos, é um bocadinho complicado de conseguir. Mas não sei. O André nunca desiste. Estejam por isso atentos e, se quiserem comprar o disquinho, sai amanhã. Podem comprá-lo contactando o André Dal no Facebook e Instagram. Ficam aí os links e, aqui em baixo, o single de apresentação, que dá o nome ao álbum.